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Full text of "Revista internacional do espiritismo"

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https://archive.org/details/revistainternaci1512unse 


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ANO  XV  —  E.  S.  Paulo  —  Matào,  15  de  Janeiro  de  1940  —  NUM.  12 

Rmmta  Internacional 

do  espiritismo 

PUBLICAÇÃO  MENSAL  DE  ESTUDOS  ANÍMICOS  E  ESPIRITAS 

Orgão  de  Propaganda  do  Centro  Espirita  «Amantes  da  Pobreza» 

FUNDADOR  :  Cairbtir  Schutel 

DIRETOR  :  José  da  Costa  Filho  X-  REDATOR  :  A.  Watson  Campeio 
gerente  :  Anlonia  Perche  S.  Campeio 

Redação:  Av.  28  de  Agosto  n.  17  Oficinas:  Rua  Ruy  Barbosa 


e)© 


ESPIRITISMO  E  LOUCURA 


(Continuação) 


«feição  positiva  dada  ao  es- 
I  tudo  da  alma  na  fase  mo- 
derna  da  psicologia,  esta 
Í4I  modificação  científica  aber- 
ta  nos  antigos  processos 
^  de  análise,  tem  conseguido 
os  mais  seguros  resultados 
e  proclamado  provas,  que  a  tantos  sécu¬ 
los  pareceram  intangiveis. 

A  observação  e  experiência  fixaram- 
se  nestes  domínios  e  por  elas  se  tem  atin¬ 
gido  um  grau  de  certeza,  a  que  por  ne¬ 
nhum  outro  modo  se  poderia  chegar. 

De  ano  para  ano  a  verdade  se  pro¬ 
clama  mais  vigorosamente,  as  prov»s  se 
acumulam,  a  conquista  alarga-se  e  nunca 
mais  deixará  de  fortificar-se  com  novos 
factos  confirmativos. 

Quem  examina  o  caminho  percorri¬ 
do  e  acompanha  dia  a  dia  as  novas  des¬ 
cobertas,  não  tem  a  menor  dúvida  de  que 
o  estudo  do  espírito  humano  entrou  na 
senda  legítima,  na  estrada  insofismável  da 
verdade  cientifica,  e  como  tal  a  procla¬ 
mam  já  os  que  a  estudam  e  hão  de  pro¬ 
clamar  quantos  denodadamente  a  quise¬ 
rem  estudar. 

As  dúvidas  e  as  críticas  veem  da 
ignorância/senão  do  interesse  ou  da  pseu- 
da  ciência. 

Os  novos  conhecimentos  são  frutos 
dum  trabalho  indefectível,  universalizado, 
levado  a  efeito  por  investigadores  compe¬ 


tentíssimos  e  livres  de  injunções  partidárias. 

O  estudo  deste  problema  constitúe 
a  máxima  questão  atual,  interessando  mui¬ 
tos  milhões  de  pessoas,  inclusive  sábios, 
firmando-se  indestrutível  e  sucessivamente 
num  crescente  número  de  experiências, 
que  para  sempre  ficarão  como  pedras  an¬ 
gulares  deste  majestoso  edifício. 

Já  em  1900,  no  4.0  Congresso  Inter¬ 
nacional  de  Psicologia,  dizia  Myers  numa 
doutíssima  memória :  «Afirmo  que  um  es¬ 
pírito  existe  no  homem,  sendo  salutar  e 
desejável  que  esse  espírito  se  mostre  ca¬ 
paz  de  se  desprender  parcial  e  temporaria¬ 
mente  do  seu  organismo  físico ...  o  que 
permitiria  ao  espírito  dum  morto  fazer 
uso  deste  organismo,  temporariamente  a- 
bandonado». 

Os  resultados  obtidos  por  M.  Dur- 
ville  e  comunicados  á  «Sociedade  Magné¬ 
tica  de  França»  acerca  do  fantasma  ou 
corpo  astral  dos  vivos  tiveram  larga  re¬ 
percussão.  Ele  provou  á  Sociedade  que  o 
espírito  é  capaz  de  desprender-se  tempo¬ 
rariamente.  Õs  sentidos  físicos  ficam  com¬ 
pletamente  abolidos;  os  sujets  nada  veem 
pelos  olhos,  nada  ouvem  pelos  ouvidos, 
não  percebem  qualquer  odor  pelos  senti¬ 
dos  olfativos  e  não  sentem  nenhuma  sen¬ 
sação  de  contacto. 

Todas  estas  impressões  parecem  per¬ 
cebidas  por  sentidos  distintos  levados  pe¬ 
lo  duplo. 


-  346 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Para  os  sujcts,  sem  exceção,  o  du¬ 
plo  é  todo  o  individuo  e  o  corpo  físico 
não  é  nada. 

«O  duplo  sou  eu  mesma,  diz  Leon- 
tina,  o  corpo  é  apenas  um.saco  vasio». 

Edmée  dá  a  tal  respeito  uma  descri¬ 
ção  mui  interessante.  Respondendo  a  uma 
pergunta  que  lhe  fiz,  disse :  «O  corpo  que 
tocais  não  é  nada,  é  o  involucro  do  outro. 

Toda  minha  personalidade  está  na 
pessoa  luminosa  (duplo),  que  é  o  que  pen¬ 
sa,  que  sabe,  que  opera,  e  que  transmite 
ao  físico  o  que  vos  digo». 

— Como  devemos  denominar  a  pes¬ 
soa  luminosa  ? — «Não  é  necessário  dar-lhe 
nome  especial ;  é  Edmée,  sou  eu  ;  se  a  qui¬ 
serdes  chamar,  dizei  Edmée». 

— Todavia  cumpre  que  distingua- 
mos  uma  da  outra.  Quereis  convencionar 
que  se  chame  corpo  astral,  duplo,  pois  que 
é  vosso  duplo  ? 

—  «Não,  astral  não.  Chamai-lhe  se 
quiserdes  o  duplo,  e  contudo  não  é  o  du¬ 
plo,  pois  que  sou  eu  mesma». 

Interrogada  a  este  propósito  numa 
outra  sessão,  ainda  declara  que  o  físico 
nada  sente,  nada  vê,  e  que  todas  as  im¬ 
pressões  lhe  são  transmitidas  pelo  duplo, 
por  intermédio  do  cordão  que  os  liga. 

«Toca-se  o  duplo,  diz  ela,  as  im¬ 
pressão  de  contacto  vem  como  um  cho¬ 
que  ao  cérebro  físico  e  a  sensação  reper¬ 
cute-se  nele.  Quando  se  fala,  julga-se  que 
meu  físico  ouve  pois  que  responde,  mas 
não  é  assim.  O  físico  nada  ouve ;  quem 
ouve  é  o  duplo. 

A  pergunta  e  a  resposta  são  trans¬ 
mitidas  pelo  cordão  ao  cérebro  físico  co¬ 
mo  por  um  movimento,  por  qualquer 
coisa  que  vibra.  E’  também  o  duplo  que 
vê,  e  a  vista  vem  ao  físico  por  um  mo-1 
vimento,  é  como  eletricidade  que  faz  vi¬ 
brar  o  cérebro  físico  e  então  êle  vê  o  que 
o  duplo  viu.  Todas  as  impressões  recebi¬ 
das  pelo  duplo  transmitem-se  aos  centros 
do  cérebro,  mas  tais  centros  nada  perce¬ 
bem  por  eles  mesmos». 

Continuando  a  expor  o  resultado  de 
suas  observações,  M.  Durville  descreve 
suas  experiências  referentes  ao  tato  e  diz: 

«Sabe-se  que  quasi  todos  os  sujets  a- 
dormecidos  magneticamente  são  insensi- 
veis ;  mas  não  se  sabe  onde  a  sensibibili- 
dade  se  refugia. 

Quando  o  sujet  está  exteriorizado, 


a  sensibilidade  irradia  sempre  em  volta 
dele ;  e  se  picarmos  ou  queimarmos  as  zo¬ 
nas  sensiveis,  o  sujet  sente  uma  dôr  viva 
e,  ao  contrário,  absolutamente  nada  sente 
quando  picamos  o  corpo.  O  mesmo  se  dá 
no  desdobramento.  O  sujet  não  sente  nem 
as  picadas  nem  as  vivas  pressões  feitas  no 
corpo  físico ;  mas  experimenta  uma  sen¬ 
sação  desagradavel  ou  mesmo  dolorosa 
desde  que  tocamos  o  duplo  ou  o  cordão 
que  os  liga.  Este  fenômeno  verifica-se  em 
todas  as  sessões  e  com  todos  os  sensitivos 
sem  exceção. 

Torna-se  escusado  demonstrar  este 
fenômeno,  que  resulta  das  experiências. 

Eu  e  M.  André  fizemos  com  Mar- 
tha  a  experiência  seguinte,  que  aliás  mui¬ 
tas  vezes  foi  repetida  pelo  mesmo  senhor. 
Colocámos  diante  dos  olhos  semi-abertos 
do  sujet  um  papel  impresso  em  grandes 
caracteres. 

O  sujet  declara  nada  ver.  Em  segui¬ 
da  o  papel  foi  colocado  diante  de  varias 
partes  do  corpo,  e  por  vezes  o  sujet  em 
sonambulismo  vê :  pelo  cimo  da  cabeça, 
pela  nuca,  pelo  epigastro  ;  outras  vezes  o 
sujet  declara  que  não  pode  ver.  O  papel 
é  levado  diante  do  rosto  do  duplo,  á  al¬ 
tura  dos  olhos,  mas  a  visão  também  se 
não  realiza,  igualmente  não  vê  pelo  cimo 
da  cabeça,  mas  pela  nuca  lê  sem  hesitação. 

O  sujet  desdobrado  pode  ver,  ainda 
que  bastante  confusamente,  dum  aposento 
para  o  outro.  «Estou  no  fundo  do  meu 
gabinete  com  Edmée,  que  se  acha  em  des¬ 
dobramento». 

Peço  a  três  testemunhas  da  expe¬ 
riência — Mme.  Stahl,  Mme.  Fournier  e  M. 
Bonfret — o  favor  de  irem  para  a  sala  das 
reuniões  da  Sociedade,  e  de  executarem 
aí  movimentos  simples  de  facil  descrição, 
para  que  possamos  verificar  se  o  duplo, 
que  vou  mandar  a  essa  sala,  poderá  ver 
alguma  coisa. 

O  Dr.  Pau  de  Saint-Martin,  coloca- 
se  junto  da  janela,  entre  o  meu  gabinete 
e  a  sala  para  onde  vão  as  testemunhas,  a- 
fim  de  poder  observar  quasi  ao  mesmo 
tempo  tanto  o  sujet  como  os  atos  execu¬ 
tados  pelos  novos  experimentadores. 

— Primeira  experiência — Mme.  Four¬ 
nier  assenta-se  sobre  a  mesa.  —  E  o  sujet 
logo  diz :  «Vejo  Mme.  Fournier  que  está 
sentada  sôbre  a  mesa». 

II  —  As  três  testemunhas  passeiam 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  347  — 


pela  sala  e  gesticulam. — O  sujet  diz  :  «An¬ 
dam  e  fazem  gestos  com  as  mãos ;  não 
sei  o  que  isso  quer  dizer». 

III  —  Mme.  Sthal  toma  uma  bro¬ 
chura  de  sobre  a  mesa,  depois  abre-a  e 
apresenta-a  a  Mme.  Fournier.  —  «As  duas 
senhoras  estão  a  ler» — diz  o  sujet. 


IV  —  As  tres  referidas  pessoas  dão 
as  mãos  umas  ás  outras,  formando  cadeia 
e  passeiam  em  volta  da  mesa. 

«E’  comico  —  diz  o  sujet  —  dansam 
em  volta  da  mesa  como  três  imbecis». 

(Continua). 


XXXXXXXX  XXX  XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX 


UM  CASO  INTERESSANTE  DE  IDENTIFICAÇÃO  ESPÍRITA 


« Constância » 


Prof.  Ernesto  Bozzano 


O  caso  que  me  proponho  a  re¬ 
sumir,  foi  relatado  por  um  investiga¬ 
dor  que  procede  com  métodos  rigo¬ 
rosamente  cientficos  e  que  permane¬ 
ce  irredutivelmente  céptico  com  res¬ 
peito  á  interpretação  espírita  das  ex¬ 
traordinárias  manifestações  mediúni- 
cas  que  êle  obteve. 

O  livro  do  qual  o  exlraio,  tem 
por  titulo:  Forfy  Years  of  Psychic  Re¬ 
search  (Quarenta  Anos  de  Investiga¬ 
ção  Psíquica)  e  seu  autor  é  o  bem 
conhecido  escritor  norte  americano 
Hamlin  Garland,  que,  chegado  aos  75 
anos,  resolveu  publicar  os  importan¬ 
tes  relatos  das  experiências  psíquicas 
que  êle  mesmo  dirigiu,  em  caráter  de 
«Research  Officer»  das  duas  «Socie¬ 
dades  Americanas  de  Estudos  Psíqui¬ 
cos»,  que  se  sucederam  nos  Estados 
Unidos.  Trata-se  de  um  investigador 
oficial,  rigorosamente  cient  fico  que, 
além  de  tudo,  sabia  experimentar.  O 
que  significa  que,  ao  contrário  dos 
outros  «Research  O  ficers»,  nunca,  ol¬ 
vidou  que  os  instrumentos  de  traba¬ 
lho  neste  campo  são  indivíduos  hu¬ 
manos  de  extrema  sensibilidade.  Em¬ 
pregou  portanto,  em  todos  os  momen¬ 
tos  e  antes  de  tudo,  o  maior  cuidado 
em  atrair  a  simpatia  e  a  confiança 
dos  médiuns,  afim  de  poder,  por  esse 
meio,  aplicar  os  controles  mais  rigo¬ 
rosos;  direi  de  boa  vontade:  os  mais 
desapiedados,  com  pleno  consenti¬ 
mento  das  vítimas,  que  a  êle  se  a- 
bandonavam  com  emocionante  espi¬ 
ritualidade.  Realizou  sessões  com  nu¬ 
merosos  médiuns  profissionais,  mas 
em  seu  livro,  somente  menciona  al¬ 
guns  fenômenos  excecionais  com  e- 
les  obtidos,  afim  de  se  consagrar  ás 
experiencias  pessoais  com  cinco  ou 

' 

I  . 


seis  médiuns  particulares  que,  perma¬ 
necendo  desconhecidos,  eram,  não 
obstante,  bastante  poderosos  para  se 
tornarem  célebres,  se  não  houvessem 
considerado  seus  poderes  como  algo 
sagrado  e  religioso,  que  não  era  con¬ 
veniente  profanar  procurando  notorie¬ 
dade  e  interêsse. 

A  obra  de  H.  Garland,  pelas  ma¬ 
nifestações  extraordinárias  a  que  as¬ 
sistiu  o  autor  e  o  rigor  dos  controles, 
é  uma  das  mais  importantes  e  das 
mais  edificantes  que  tem  aparecido  á 
luz  do  mundo  inteiro,  depois  de  mui¬ 
tos  anos.  Sôbre  a  mesma  publiquei 
extensa  análise  que  foi  comentada  na 
Italia,  mas,  aqui,  somente  me  propo¬ 
nho  referir  e  estudur  um  caso  com¬ 
plexo  e  pouco  vulgar  de  identificação 
espírita,  que  apresenta  modalidades 
excecionais  de  desenvolvimento,  ain¬ 
da  que  haja  participado  da  sorte  de 
todos  os  outros  casos  do  mesmo  ge- 
nero,  isto  é,  não  logrou  convence-lo 
da  origem  extrínseca  eu  espirita  dos 
casos  desta  natureza. 

A  este  propósito,  constato  que  o 
cepticismo  irredutível  do  nosso  autor, 
ante  a  eloquência  das  provas,  foi  se¬ 
veramente  exprobado  por  certos  crí¬ 
ticos,  mas  injustamente,  segundo  mi¬ 
nha  opinião.  A  cada  qual  assiste  o 
direito  de  pensar  por  si  mesmo,  sem¬ 
pre  que  suas  convicções  sejam  a  ex¬ 
pressão  sincera  de  sua  alma  e  sob  a 
condição  de  também  êle  respeitar  es- 
crupulósamente  as  convicções  de  ou¬ 
trem.  Ora  o  nosso  autor  se  manifesta 
completamente  respeitoso  em  face 
das  opiniões  dos  que  divergem  de 
seu  modo  de  pensar,  e  vai  mesmo  a 
ponto  de  declarar  que  ardentemente 
se  esforça  por  participar  de  suas  con- 


-  348  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


vicções,  lamentando  seu  próprio  cri¬ 
tério  que  a  isso  o  impede.  Que  mais 
se  poderá  exigir? 

Parece-me  que  seu  cepticismo, 
fundado  sôbre  considerações  gratuitas 
de  filósoto  estranho  á  metapsíquica, 
deva  ser  pelo  contrário  um  tema  de 
reflexão  instrutiva  para  os  leitores  do 
livro,  pois  que  não  se  poderá  sensu- 
rar  um  autor  que  sinceramente  expõe 
seu  estado  de  alma,  seja  êle  qual  for. 
Nada  mais  ha  além  de  imoderações 
de  linguagem  que,  mui  frequentemen¬ 
te,  sãc  empregadas  pelos  adversários 
contra  defensores  da  hipótese  espiri¬ 
tista  ;  nada  mais  que  imoderações  in¬ 
justificáveis  e  irritantes  que  devem 
ser  superadas  por  um  raciocinar  e- 
nérgico.  Isto  tanto  mais  por  serem 
fiequentemente  expressas  ern  termos 
de  comiseração  e  de  superioridade, 
cheios  de  arrogância,  pelos  que  olvi¬ 
dam  que  entre  os  defensores,  em 
questão,  ha  célebres  homens  de  ciên¬ 
cia,  como  Wallace,  Crookes,  Myers, 
Barrelt,  Hcdgson,  Hislop,  Gelley,  Du 
Prel,  Lombroso,  Brofferio,  Luciani.  Mi¬ 
sérias  e  erros  da  fatuidade  humana. 

Depois  desta  extensa  introdução, 
proponho-me  a  resumir  o  caso  em 
apreço,  advertindo  que  meu  resumo 
somente  pode  dar  uma  pálida  idéia 
da  impressão  altamenie  sugestiva,  do 
ponto  de  vista  espírita,  que  se  obtem 
dos  informes  do  mesmo  caso,  infor¬ 
mes  que  ocupam  nada  menos  de 
uma  centena  de  páginas  do  livro. 

Encontrando-se  em  Chicago,  o 
nosso  autor  deparou  casualmente,  em 
casa  de  um  amigo,  com  uma  senhora 
de  nome  Hariley,  que  lhe  foi  apresen¬ 
tada  como  médium  de  escrita.  Natu¬ 
ralmente  expressou  o  desejo  de  rea¬ 
lizar  com  ela  algumas  sessões,  mas  a 
senhora  se  recusou,  sob  pretexto 
de  não  ser  um  médium  profissional, 
para  em  seguida  confessar: 

«Sois  um  escritor,  e  não  quero 
expor  me  a  ser  objeto  de  artigos  sen¬ 
sacionais.  Sou  viúva  e  mãe  de  um  me¬ 
nino  de  doze  anos;  devo  ser  prudente». 

Einalmente  o  nosso  autor,  ro¬ 
deando-a  de  atenções  e  fazendo-lhe 
promessas,  logrou  vencer  seus  escrú¬ 
pulos,  e  com  amigos  comuns,  realizou 
sua  primeira  sessão.  À  mediunidade 
da  senhora  Hartley  consistia  em  fa¬ 


culdades  de  «voz  direta»  e  «escrita 
direta»,  esta  última  entre  duas  ardó¬ 
sias  ligadas  e  dispostas  de  maneira 
a  deixar  um  espaço  suficiente  gue 
permitia  um  pegueno  lapis  mover-se 
e  escrever.  O  médium  não  caia  em 
transe  e  as  sessões  se  realizavam  á 
plena  luz  do  dia. 

Hamlin  Garland  trouxera  as  ar¬ 
dósias  consigo,  entre  as  quais  intro¬ 
duzira  uma  fôlha  de  papel  dobrada, 
sôbre  a  qual  estavam  escritas  estas 
palavras  :  Querido  Eduardo,  para  ser¬ 
vir  de  prova  de  identidade,  reproduze 
aqui  alguns  compassos  do  teu  ma¬ 
nuscrito  musical  inédito.» 

Este  nome  era  o  de  seu  amigo 
Eduardo  Mac  Dowell,  músico  e  com¬ 
positor  de  talento,  morto  poucos  me¬ 
ses  antes. 

Ele  mesmo  quis  fechar  as  ardó¬ 
sias,  em  seguida  entregou-as  ao  mé¬ 
dium,  que  as  colocou  sôbre  a  mesa, 
convidando  o  experimentador  a  con- 
serva-las  a  seu  lado. 

Este  fez  a  seguinte  observação: 

«Percebi  o  ruído  de  um  lapis  que 
escrevia  no  interior  das  ardósias  e  cons¬ 
tatei  o  fenômeno  pelas  vibrações  das 
mesmas  ardósias,  ao  mesmo  tempo  que 
o  médium  igualmente  assegurava  por  um 
lado  com  a  mão  direita,  estando  a  es¬ 
querda  pousada  sôbre  a  mesa. 

Terminada  a  escrita,  o  médium 
retirou  as  ardósias  e  abriu-as.  Ambas 
haviam  sido  utilizadas.  Sôbre  uma  po¬ 
dia  se  ler  u’a  «mensagem»  do  «espírito 
guia»  e  sôbre  a  outra,  estas  palavras 
bem  significativas  para  mim  :  «Deseja¬ 
ria  que  me  pudesses  ver  transformado 
tal  qual  estou,  sempre  absorvido  pelo 
trabalho  e  feliz  por  assim  ser!»  (Ass. 
M.  A.  Mc  Dowell». 

Debaixo  da  mensagem  á  esquer¬ 
da,  estavam  traçadas  quatro  linhas 
sôbre  as  quais  se  podiam  ler  três  no¬ 
tas  musicais. 

O  autor  observa:  «O  nome  es¬ 
crito  era  Mc  Dowell,  em  lugar  de  Mac 
Dowell,  mas  as  iniciais  que  o  prece¬ 
diam  e  que  eu  não  havia  escrito  no 
papel,  eram  exatas». 

O  mesmo  fenômeno  se  reprodu¬ 
ziu  durante  uma  das  «reprises»,  o  a- 
migo  defunto  escreveu  esta  mensagem : 

«Estou  extenuado,  já  não  sou  o 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  349  — 


mesmo.  Agora  sinto-me  reviver  num 
ambiente  de  progresso  infinito.  Como 
está  minha  mulher  ?  Algüem  a  socorre?» 

À  esta  última  pergunta  liamlin 
Garland  respondeu  em  vóz  alta :  «Ela 
está  bem.  Não  é  infeliz  e  alguém  a 
prole  ge». 

A  mensagem  tinha  um  elevado 
significado  probatório,  pois  o  defunto 
comunicante  havia  sofrido  grave  en¬ 
fermidade  mental  que  o  havia  impe¬ 
dido  de  trabalhar  até  sua  morte. 

Durante  uma  das  repetições  do 
fenômeno,  enquanto  o  médium  manti¬ 
nha  as  ardósias  sôbre  a  mesa,  estas 
escaparam  de  suas  mãos  e  foram  cair 
sôbre  os  joelhos  do  autor.  Este  ob¬ 
serva  : 

«Enquanto  estas  estavam  sôbre 
meus  joelhos,  eu  ouvia  o  lapís  correr 
em  seu  interior.  Quando  as  abri,  não 
notei  que  o  pentagrama  houvesse  sido 
retocado,  as  linhas  estavam  melhor  marca¬ 
das  e  numerosas  notas  haviam  sido  a- 
grcgadas». 

E  outras  notas  musicais  conti¬ 
nuavam  a  alinhar-se  a  cada  nova  re¬ 
petição,  ao  mesmo  tempo  que  um  dé¬ 
bil  «murmúrio»  começou  a  fazer-se 
ouvir,  respondendo  ás  perguntas  do 
experimentador,  em  vez  de  responder 
mediante  a  escrita  nas  ardósias,  co¬ 
mo  anteriormente.  A  este  respeito,  ob¬ 
serva  o  autor: 

♦Devo  reconhecer  que  todas  as 
observações  do  amigo  defunto  eram  fei¬ 
tas  de  maneira  impressionante,  aLsolu- 
tamente  conformes  ao  seu  caráter.'  A- 
lém  adisso,  parecia  ansioso,  profunda¬ 
mente  ansioso,  de  obter  notícias  de  sua 
esposa  e  de  seu  real  estado  de  saude. 
Simultaneamente  pela  escrita  direta,  ou¬ 
tras  notas  a  mais  se  alinhavam  e  estas 
mais  cuidadosamente  traçadas.  O  «mur 
múrio»  informou  que  essas  «notas»  e- 
ram  extraídas  do  terceiro  «movimento» 
de  sua  «sonata  trágica».  Logo  se  su¬ 


cederam  outras  notas,  mas  acompanha- 
dase  por  outro  título:  Húngara  ou  Hun¬ 
gria.  Falando  com  o  invisivel,  pergun¬ 
tei  :  *  Estas  notas  são  talvez  extraídas 

de  alguma  composição  inédita A  «Sim*. 
«E’  uma  composição  ou  melhor ,  notas  á 
margem  de  uma  composição  ?»  « E  um 

pequeno  trecho  de  música. »  « Onde  se 

encontra  i»  « Entre  meus  manuscritos  em 
Nova  York ,  em  minha  casa  . .  .» 

Note-se  que  esta  nova  música  a- 
pareceu  sôbre  as  ardósias,  ao  tempo  em 
que  estas  estavam  debaixo  de  meu  pé ! 
Em  meu  pé  eu  sentia  as  vibrações  do 
fenômeno.  A  notar,  além  disso,  que  fui 
eu  mesmo  quem  abriu  as  ardósias,  sem 
intervenção  do  médium  .  .  . 

Devo  confessar  ainda  que  nesse 
momento  senti  a  impressão  de  achar- 
me  em  contacto  com  o  falecido  amigo. 
A’  medida  que  esses  murmúrios  se  tor¬ 
navam  mais  interessantes,  ou  vigiava 
com  redobrada  atenção,  os  lábios  do  mé¬ 
dium,  sem  conseguir  nem  perceber  siquer 
a  sombra  de  um  movimento  dos  mesmos 
ou  da  garganta.  Como  quer  que  seja, 
evidente  se  torna  que  a  hipótese  da 
ventriloquia  não  poderia  explicar  o  fe¬ 
nômeno  das  notas  musicais  traçadas  sõ* 
bre  as  ardósias  seguras,  a  princípio,  em 
minhas  mãos,  e  logo  em  seguida,  de¬ 
baixo  de  meu  pé. 

Como  as  notas  musicais  apare¬ 
ciam  acumulando-se,  dirigi-me  ao  invi- 
vel  para  lhe  dizer:  «Eduardo,  tu  foste 
além  das  minhas  capacidades  de  expe¬ 
rimentador.  Não  posso  transcrever  es¬ 
tas  notas  de  musica,  e  muito  menos 
identifica-las.  Necessito  de  alguém  que 
me  ajude.  Lembras-te  de  Henrique  Ful- 
ler  de  Chicago?  Sim,  respondeu  —Pro¬ 
ponho-me  a  faze-lo  vir  ás  sessões.  Ele 
tem  prática  da  escrita  musical  e  é  um 
excelente  pianista.  Graças  a  êle,  estarei 
em  condições  de  pôr  em  ordem  as  três 
mensagens».  O  invisivel  deu  seu  assen¬ 
timento,  mau  grado  a  desagradavel  e 
inevitável  interrupção  das  sessões  que 
se  seguiu.» 


Continúa 


Sim,  creio  que  depois  do  derradeiro  sono 
Ha  de  haver  uma  treva  e  ha-de  haver  uma  luz, 
Para  o  vício  que  morre  ovante  sôbre  o  trono, 
Para  o  santo  que  expira  inerme  numa  cruz. 

- niiFRRA  jUNQUEIROEE 


—  350 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Um  voo  de  Flores... 


Os  chamados  fenômenos  físicos, 
por  sua  natureza  profundamente  obje¬ 
tiva,  sempre  interessaram  aos  investi¬ 
gadores  das  manifestações  supranor- 
mais.  À  dificuldade  que  reveste  essa 
fôrma  fenômenica,  dada  a  raridade 
dos  médiuns  especializados,  é  mais 
um  fator  de  interêsse  na  análise  de 
tais  manifestações. 

De  longa  data  nos  dedicamos 
ao  estudo  desses  fenômenos.  E’  bem 
verdade  que  o  nosso  desiderato  não 
é,  apenas,  o  de  obter  fenômenos  físi¬ 
cos,  pois  que,  apesar  de  tudo,  apesar 
de  conhecermos  a  importância  que 
têm  esses  fenômenos,  como  prova  da 
imortalidade  da  alma,  no  estudo  da 
ciência  espiritista,  dedicamo-nos  mais 
á  investigações  dos  chamados  fenô¬ 
menos  mentais  dirétos,  como  a  «voz 
diréta»  e  a  «materialização  de  fantas¬ 
mas  falantes».  Mas,  quando,  esponta¬ 
neamente,  as  manifestações  físicas 
que,  quasi  sempre  antecedem  as  men¬ 
tais,  se  verificam,  não  deixamos  de 
estuda-las. 

Foi  o  que  sucedeu  na  noite  de 
l.°  de  agosto  do  ano  passado. 

Reunimos  em  nossa  casa,  uma 
vez  por  semana,  um  grupo  de  estu¬ 
diosos  do  Espiritismo,  para  trabalhos 
de  «voz  diréta».  Às  nossas  sessões 
são  feitas  em  caráter  particular,  pois 
que  o  médium  ainda  não  se  acha 
completamente  desenvolvido.  Convém 
assinalar  também  que  os  Espíritos 
Guias  dos  nossos  trabalhos,  de  vez 
em  quando  costumam  suspender  as 
sessões,  estabelecendo,  quando  o  fa¬ 
zem,  a  duração  da  folga.  Justamente, 
depois  de  69  dias  de  férias  forçadas, 
reiniciámos  os  trabalhos  no  dia  l.o  de 
agosto.  O  grupo  todo  estava  reunido. 
Éramos  eu,  Antonio  Castilho,  Urbano 
de  Assis  Xavier,  D.  lzabel  Castilho, 
D.  Maria  Jannoni,  srtas.  Adelaide  Brun- 
cow,  Rosa  Therezínha  Negrão  e  D. 
Hilda  Negrão,  o  médium. 

Logo  no  in  cio  da  sessão  a  cor¬ 
neta  luminosa  foi  levitada  e  em  se¬ 
guida  ouvimos  a  voz  do  Bororo,  um 


dos  Espíritos  dirigentes.  Disse-nos  que 
tudo  ia  bem  e  que  nos  iraria  um  pre¬ 
sente.  Momentos  após  ouvimos  outra 
voz,  que  nos  disse : 

—  «Que  a  paz  de  Jesus  esteja 
com  todos.  Sou  Cairbar  Schutel.  À- 
gradeço  ao  Urbano  ter  levado  o  pes¬ 
soal  a  Matão.  Ficaram  todos  muito  sa¬ 
tisfeitos  Um  abraço». 

Schutel  referia-se  á  sessão  de 


Foto,  em  pose,  de  26  dos  47  ra¬ 
mos  de  flores  de  hervdha 
de  cheiro. 


«voz  diréta»  que  realizámos  em  Ma¬ 
tão  na  noite  de  24  de  junho  do  ano 
passado,  cujo  relato  foi  publicado  no 
«O  Clarim»  de  l.o  de  julho  e  na  «Re¬ 
vista  Internacional  do  Espiritismo»  de 
15  de  julho 

Em  seguida  comunicou-se  o  Es¬ 
pírito  de  D.  Elisa  Maria  da  Silva,  mãe 
do  médium  D.  Elisa  palestrou  longa¬ 
mente  conôsco,  encorajando  a  filha. 

Segundos  se  passaram.  Estava- 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


351 


mos  em  silêncio,  ouvindo  apenas  o 
som  da  vitrola.  Nenhum  fenômeno  fe¬ 
ria  a  nossa  retina  ou  os  nossos  ouvi¬ 
dos.  Em  dado  momento,  porém,  ouvi¬ 
mos  e  sentimos  que  caía  sôbre  todos 
nós  alguma  coisa.  Verificámos  que 
eram  flores,  muitas  flores,  pois  que  o 
fenômeno  teve  longa  duração.  Os  ra¬ 
mos  de  flores  tinham  um  suave  per¬ 
fume,  um  perfume  sutil,  razão  por  que, 
não  pudemos  identifica-las  de  pronto, 
dado  o  ambiente  de  obscuridade  em 
que  nos  encontravamos. 

Depois  desse  fenômeno,  ouvimos 
de  novo  a  voz  do  Boróro.  Ao  nosso 
lado,  bem  junto  ao  ouvido  esquerdo, 
disse-nos : 

—  «Gostou  ?* 

Agradecemos  o  presente.  Estᬠ
vamos  comentando  com  os  demais  o 
inexperado  da  manifestação,  quando 


ouvimos  outra  voz.  Era  a  do  dr.  Adhe- 
mar  de  Assis  Xavier,  irmão  falecido 
do  Urbano.  Conversou  com  seu  mano 
e  depois  retirou-se.  Quando  acende¬ 
mos  a  luz,  verificámos  que  o  chão 
estava  coalhado  de  flores.  Flores  de 
côr  branca.  Eram  47  ramos  de  flores 
de  hervilha  de  cheiro,  com  caules  cui¬ 
dadosamente  cortados,  de  25  centí¬ 
metros  mais  ou  menos  de  compri¬ 
mento.  Em  nossa  casa,  onde  não  ha 
horta,  nem  nas  casas  vizinhas,  não 
encontramos  dessas  plantas.  Julgamos 
que  essas  flôres  foram  tiradas  de  al¬ 
guma  floricultura  e  isso  quer  dizer  que 
foram  transportadas  de  muito  longe, 
pois  que  as  casas  de  flores  em  S. 
Paulo  ficam  no  centro  da  cidade  e  a 
nossa  casa  no  bairro  do  Ipiranga. 

ODILON  NEGRÃO. 


0  Espiritismo  em  face  da  Ciência 

. LEOPOLDO  MACHADO  — — 

-  XVII  - 


Transmissão  do  Pensamento 

Como  a  histeria,  é  a  transmissão  de 
pensamento,  as  histórias  complicadas  do 
conciente,  inconciente  e  subconsciente,  as 
alucinações  e  outros  vocábulos  bonitos,  le¬ 
vados  por  aí  afora  e  por  toda  gente 
que  nada  entende  de  Espiritismo,  á  conta 
da  explicação  dos  fenômenos  mediúnicos. 
Mais  modernamente,  quando  os  fenôme¬ 
nos  são  inteligentes,  é  prova  de  cultura 
apelar-se  para  o  sexto  sentido,  /ipela-se, 
modernissimamente,  para  a  esquizofrenia, 
para  a  espiritopatia,  para  o  delírio  espírita 
episódico,  se  os  fenômenos  são  de  ordem 
patológica. 

Vejamos  o  que  ha  de  verdade  em 
quantos  procuram  se  arrimar,  diante  do 
mare-magno  dos  factos,  em  tais  tábuas  de 
salvamento: 

A  transmissão  do  pensamento  existe. 
E’  um  facto  concreto,  afirmam-no  quan¬ 
tos  já  se  ocuparam,  cientificamente,  com 
ele.  Concreto  e  «científico»,  tão  certo 
quanto  a  existência  de  Paris,  de  Napo- 
leão,  do  oxigênio  ou  de  Sirius,»  afirma 
Camilo  Flamarion. 

Se  existe, — e  são  acordes  em  afirmá- 


lo  cientistas  espiritualistas  e  materialistas  ! 
— que  deve  ser?  Uma  doença?  Uma  fa¬ 
culdade  da  alma?  Fenômeno  de  uma  ciên¬ 
cia  nova  ? 

Feito  uma  doença  deveria  tê-lo  to¬ 
mado  o  cientista  Frederico  Myers  que  lhe 
deu  o  nome :  Telepatia,  assegurando,  com 
provas,  em  1882,  que  «o  pensamento  hu¬ 
mano  póde  agir  a  distância,  sem  auxílio 
de  nenhuma  vibração  material,  atuando 
sôbre  o  pensamento  de  outro  indivíduo.» 
Este  expressivo  «sem  auxílio  de  nenhuma 
vibração  material,»  está  a  excluir  qual¬ 
quer  função  nervosa  ou  material  da  trans¬ 
missão  do  pensamento,  função  exclusiva 
do  Espírito.  Provado  que  ficou,  em  ante¬ 
riores  artigos,  que  o  pensamento  não  é 
função  dos  neuromos  cerebrais,  mas  do 
Espírito,  é  óbvio  que  a  Telepatia  antes 
afirma  do  que  infirma  a  existência  do  Es¬ 
pírito.  Nem  o  levianissimo  transmissão  do 
pensamento,  ou  telepatia,  que  se  ouve,  á 
miude,  dos  lábios  de  indoutos  no  assunto, 
serve  para  explicar  fenômenos  mediúnicos 
inteligentes.  Dí-lo  assim  Charles  Richet, 
no  seu  Tratado  de  Metapsíquica:  «Crê-se 
haver  tudo  explicado,  quando  se  diz  «te¬ 
lepatia».  Mas,  não  se  explica  coisa  nenhu- 


—  352  — 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


ma.  A  vibração  cerebral  conciente  ou 
não,  continua  um  mistério.»  E  mistério, 
sê-lo-á  para  a  ciência  materialista,  indeci¬ 
frável,  enquanto  ela  não  se  espiritualizar  ! 

O  fenômeno  existe,  pois,  e  continua 
um  mistério.  Se  ainda  não  é  conhecido 
na  sua  origem,  como,  então  classificá-lo 
de  doença  transmissível  á  distância,  a  jul¬ 
gar  pelo  próprio  termo,  justaposição  de 
dois  elementos  gregos:  tele  +  pathos,  c uja 
tradução,  ao  pé  da  letra,  seria — afecçao  a 
distância  ?  ! 

O  rev.  -Evan  W.  Hitchings,  a  des¬ 
peito  de  seu  credo  protestante,  insurge-se 
contra  a  telepatia  explicando  factos  espí¬ 
ritas.  Por  LIGHT,  de  7  de  janeiro,  de¬ 
pois  de  narrar  uma  bôa  série  de  fenôme¬ 
nos  espíritas,  observados  em  pessoas  de 
sua  família,  os  quais  fora  fastidioso  aqui 
englobados,  coriclue  :  «Para  mim,  é  muito 
mais  simples  e  verdadeiro  declarar  que 
os  meus  amigos  do  Espaço  vieram  trazer- 
me  provas,  que  afastam  toda  e  qualquer 
idéia  telepática,  ou  do  inconciente  . . .» 

Forçando  sua  entrada  nos  domínios 
da  psicologia  experimental,  maximé  depois 
das  experiências  realizadas  pela  SOCIETY 
FOR  PSYCHICAL  RESEARCH,  a  Tele¬ 
patia  passou  a  significar  «Toda  espécie  de 
fenômenos  em  que  um  sêr  humano  co¬ 
nhece  á  distancia  e  sem  auxílio  dos  sen¬ 
tidos  ordinários,  a  vontade  ou  o  pensa¬ 
mento  de  outra  pessoa.  Deixa,  portanto, 
de  ser  doença  transmitida  à  distância,  pa¬ 
ra  ser  uma  faculdade  do  Espírito,  quiçá 
uma  virtude.  Virtude  e  faculdade  que,  a 
a  despeito  de  só  agora  ocupar  os  estudos 
de  nossos  cientistas,  era  já  conhecida  e 
praticada  de  tempos  imemoriais.  Franz 
Pudmore  escreve  que,  «por  meio  da  te¬ 
lepatia, — que  não  é  mais,  para  êle,  do  que 
o  retrocesso  atávico  a  um  passado  longín¬ 
quo — era  que  os  primitivos  selvagens  se 
correspondiam  entre  si.» 

Talvez  por  sentir  que  a  Telepatia 
não  era  doença,  foi  que  Emile  Boirac  pro- 
poe  substituir-lhe  a  denominação  para  Te- 
lepsíquica.  Nós  optariamos,  se  tivéssemos 
autoridade  para  tanto,  pelo  Telepsiquia , 
por  uma  questão  linguística,  visto  derivar 
de  psiché,  e  pelo  facto  do  sufixo  ico  ser, 
mais  comumente,  próprio  á  formação  de 
adjetivo.  Myers,  avançando  nos  seus  estu¬ 
dos,  crêa  a  Telestesia,  uma  forma  de  trans¬ 
missão  do  pensamento  «por  um  modo  di¬ 
ferente  dos  sentidos  sem  referência  a  ou¬ 
tro  sêr.»  Richet  opina  pelo  termo  cripte  s- 
tesia.  Pouco  importa  os  nomes,  todos' 


mais  ou  menos  empolados,  a  vocabulários 
gregos,  desde  que  o  facto  exista! 

Pois,  a  despeito  de  cientistas  de  ver¬ 
dade,  porque  experimentadores  e  estudio¬ 
sos  dos  factos,  atestarem  a  existência  do 
fenômeno, — que  não  póde  ser,  repetimos, 
doença,  mas  função  do  Espírito, — a  ciên¬ 
cia  materialista,  oficial,  ainda  põe-no  á 
conta  de  factos  duvidosos,  ou  á  conta  de 
«coisas  incríveis,»  como  viramos,  agora, 
em  Imprensa  zMédica ,  da  pena  do  médico 
Mendonça  Castro . . . 

Alexis  Carrel,  um  cientista  côncio 
da  existência  da  Telepatia,  a  que  empres¬ 
ta  relevante  apreço,  em  a  sua  admiravel 
obra  «O  Homem,  esse  "Desconhecido ,»  asse¬ 
gura  que,  embora  «a  maioria  dos  biolo¬ 
gistas  e  dos  médicos  neguem  a  telepatia  e 
outros  fenômenos  metafísicos,»  o  facto  é 
que,  «não  obstante  tratar-se  de  atividades 
raras  no  sêr  humano,  é  ela  um  facto.» 
E,  mais  incisivamente :  «Aqueles  que  se 
acham  dotados  de  tais  faculdades  captam 
os  íntimos  pensamentos  de  outros  indiví¬ 
duos,  sem  terem  para  tal  que  fazer  uso 
de  seus  sentidos.»  E  vai  mais  longe,  afir¬ 
mando  incisivamente,  como  se  fosse  um 
espiritista  intuido  das  verdades  espirituais 
que  «os  homens  de  ciência  não  devem  os 
seus  notáveis  descobrimentos  apenas  ao 
trabalho  de  laboratório,  mas  também  a 
certas  forças  frequentemente  ignoradas, 
ou  não  reconhecidas,  que,-  na  realidade 
desempenham  um  importantissimo  papel 
como  guias  do  pensamento  cientíiíco,  a- 
través  dos  labirintos  de  hipóteses  e  con¬ 
jeturas,  etc.» 

Nós,  espiritistas,  chamamos,  com  a 
prova  dos  factos  e  a  lógica  da  argumen¬ 
tação,  a  esses  «guias  do  pensamento,»  da 
afirmação  do  grande  biologista  do  «Insti¬ 
tuto  Rockefeller,»  de  Espíritos  guias,  ou 
Espíritos  afins  e  simpáticos,  que  vêm  tra¬ 
zer  aos  homens,  a  intuição  daquilo  que 
gostariam  de  realizar,  no  sentido  de  que 
a  humanidade  avance  mais  na  senda  do 
Progresso. . . 

Cesar  de  Vesme,  recem-falecido  é 
outro  grande  investigador,  que  não  era 
espiritista,  chegou,  como  Richet  e  Carrel, 
á  mesma  evidência  do  fenômeno  telepáti¬ 
co,  por  isso  que  afirmou,  em  «Revue  de 
Metapsichique»,  em  1935 :  «Não  é  que 
contestemos  a  autenticidade  dos  fenôme¬ 
nos  que  se  registram  sob  a  rubrica  de  te¬ 
lepatia.  O  que  estamos,  é  inclinado  a  pen¬ 
sar  que  esse  grupo  de  factos  paranormais 
pertencem  á  qualquer  outra  classe,  que 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  353  - 


não  á  telepatia».  Classe  que  não  soube, 
entretanto,  precisar ;  que  precisar  nunca 
saberá,  dado  o  sentido  anti-espiritualista 
com  que  se  procurou  solucionar  o  pro¬ 
blema  . . . 

Pinto  de  Carvalho,  em  belo  artigo 
inserto  na  Revista  Espírita  do  Brasil,  de 
Março  de  1937,  estuda  os  fenômenos  tele¬ 
páticos,  concluindo  que  «renegá-la  seria 
ultrapassar  as  raias  do  absurdo,  porque 
atestada  por  número  respeitável  de  docu¬ 
mentos  incontestáveis». 

Experiências  recentes  de  gabinete  — 
dí-lo  Gringoire ,  de  Paris — atestaram  os  fac¬ 
tos  que  o  materialismo  superficialmente 
cientifico  nega.  Abramowiski,  realizou  ex¬ 
periências  em  Varsóvia,  antes  do  grande 
e  doloroso  sacrifício  desta  cidade,  vendo 
50  °/o  de  suas  experiências  coroadas  de 
êxito.  Naturalmente  por  deficiente  esco¬ 
lha  de  percipientes.  Warcolier,  em  França, 
diante  dos  resultados  obtidos,  satisfatórios, 
confirma  que  «existe  alguma  coisa.  Mas, 
nós  ignoramos  ainda  o  segredo  da  telepa¬ 
tia».  E  só  quando  admití-la  feita  força  es¬ 
piritual,  ou  o  próprio  Espírito  a  projetar- 
se  de  um  sêr  a  outro  sêr,  ter-se-á  o  co¬ 
nhecimento  integral  do  que  ela  é.  Osso- 
wiecki  diz,  materialisticamente,  que  «a 


memória  individual  existe  ainda  depois  da 
morte,  e  que  póde,  em  certos  casos,  ser 
atingida  por  uma  comunicação  telepática». 
Claro  que  deve  existir,  de  vez  que  é  ela 
faculdade  do  Espírito,  que  sobrevive  á 
matéria. 

A  telepatia  é,  sem  sombra  de  dúvi¬ 
da,  a  exteriorização  de  forças  espirituais, 
da  conciência  espiritual  de  um  indivíduo, 
passivel  de  explicação  sómente  pelos  fac¬ 
tos  registrados  através  das  ciências  psíqui¬ 
cas,  das  explicações  racionais  que  os  Espí¬ 
ritos  de  luz  no-las  transmitem. 

Estamos  com  Léon  Denis,  quando 
afirma  que  «a  telepatia,  o  projetar,  a  dis¬ 
tancia,  do  pensamento,  e  mesmo  da  ima¬ 
gem  do  manifestante,  faz-nos  subir  mais 
um  degrau  da  escala  da  vida  psíquica». 
(O  Problema  do  Sêr  e  do  Destino).  Pro¬ 
jeção  que  se  processa  através  da  vista,  dos 
ruídos  e  sons,  da  audição.  Daí  Gabriel  De- 
lanne  agrupá-la  em  três  estados  distintos, 
vibratórios,  que  denomina  de  visuais,  men¬ 
tores,  sensitivos.  Discriminar  os  fenômenos 
já  registrados  nos  anais  das  Ciências  Psí¬ 
quicas,  constantes  nas  obras  que  por  aí 
vemos,  ao  alcance  de  todas  as  bolsas,  não 
é  tarefa  para  enquadrar-se  nos  moldes  de 
um  artigo  ligeiro  .  . . 


* S/l  k/l  k/l  k/l  KJi  k/  Kj  K/l  -v/1  k/l  k/l  -s/*  k/l  k/»  k/l  k>  k/l  k/*  k/l  k/*  k/l  k/*  k/l  k/t  k/t  k/t  k/l  k/t 

tr%  irN  rN  y%  rN  rN  y%  y*^  irN  y%  *  /*■«  yN  ys  ^ ^  y>.  y^-  y%  ys,  y%  \ri  y%  y^  y%  y><  y^  y%  ys 


DE  QUANDO  EM  QUANDO 


EDUARDO  LEITE  DE  ARAÚJO 

(Da  A.  P.  I.) 


SE  o  campo  das  perquirições 
psíquicas  é  fértil  na  produção 
dos  fenômenos  os  mais  emo¬ 
cionantes,  também  o  é  dos 
mais  dificultosos  pelos  óbices  que  sur¬ 
gem  a  cada  passo,  como  que  a  de¬ 
safiar  a  paciência  dos  que  se  dedi¬ 
cam  a  tais  experimentações.  Estas  se 
revestem  da  maxima  gravidade.  Ne¬ 
las  não  deverão  tomar  parte  indiví¬ 
duos  dotados  de  sistema  nervoso  de¬ 
bilitado,  e  menos  ainda  deverão  as¬ 
sisti-las  os  cépiicos  ferrenhos,  ou  os 
frívolos.  Estes  últimos  que  se  ocupam 
tão  sómente  das  banalidades  do  mun¬ 
do  para  preencher  as  suas  horas  de 
ócio ;  gente  dessa  natureza  não  deve 
ser  admitida  a  semelhantes  sessões. 

Considere-se  já  as  controvérsias 
existentes  nos  comentários  dos  cien¬ 


tistas  que  se  tem  dedicado  a  esses 
estudos.  Em  se  tratando  de  assunto 
por  excelencia  transcendental  e  va¬ 
riando  de  uma  fórma  extraordinária 
as  modalidades  mediúnicas,  eles,  os 
doutos,  tem  tirado  conclusões  as  mais 
disparatadas,  se  não  as  mais  absur¬ 
das,  criando  ao  mesmo  tempo  teorias 
e  terminologias  intrincadas.  Ora,  se 
entre  os  cientistas,  com  algumas  ex¬ 
ceções,  são  estabelecidas  tais  desin- 
teligências,  maximé  o  será  entre  aque¬ 
les  que  não  se  encontrem  suficiente¬ 
mente  preparados  para  tal  ordem  de 
investigações.  Portanto,  os  cretinos  ou 
os  fúteis,  não  deverão  imiscuir-se  em 
tais  assuntos.  À  sentença  evangehca 
é  peremptória:  não  atirem  pérolas 
aos  porcos. 

O  professor  Ernesto  Bozzano,  que 


—  354  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


na  lialia  se  tem  destacado  de  uma 
fórma  eminentemente  extraordmaria, 
com  a  sua  dialética  riquíssima  e  em¬ 
polgante,  tem  confundido  aqueles  cien¬ 
tistas  que,  obstinados,  procuram  se 
firmar  em  seus  frágeis  argumentos  ne¬ 
gativos  quanto  á  sobrevivência  do  es¬ 
pírito,  embora  aceitando  os  fenôme¬ 
nos.  Assim  sucedera  também  a  Lom- 
broso,  quando  inicialmente  começou 
a  observar  os  fenômenos  psíquicos  ou 
metapsíquicos,  e  que,  confessando  ser 
escravo  dos  factos,  não  aceitava,  po¬ 
rém,  a  sobrevivência  do  espírito.  E, 
só  mais  tarde,  acumulado  de  provas 
sôbre  provas,  é  que  se  rendeu  á  evi¬ 
dência,  declarando,  em  retratação, 
envergonhar-se  de  tudo  quanto  es¬ 
crevera  contra  o  Espiritismo. 

Bozzano  obteve,  em  caria  confi¬ 
dencial,  de  Charles  Richet,  a  decla¬ 
ração  de  que  a  sobrevivência  da  al¬ 
ma  era  um  absurdo ,  porém  uma  ver¬ 
dade  ! 

Fundamentados  principalmente 
nas  obras  de  Allan  Kardec  —  inega¬ 
velmente  o  primeiro  metapsíquista  que 
surgiu,  muito  antes  de  Richet  lançar 
a  designação  pomposa—,  de  Gabriel 
Delanne  e  de  outros  pioneiros  do  Es¬ 
piritismo,  temos  realizado  algumas  ex¬ 
periências,  com  resultados  interessan¬ 
tes.  Isso,  sem  que  nos  engolfemos  nos 
oceanos  daquelas  tortuosas  cogita¬ 
ções  que  tanto  tem  agitado  o  cére¬ 
bro  dos  doutos.  Encaramos  os  factos 
com  a  maior  calma  e  simplicidade,  e 
sob  o  prisma  de  contribuição  positi¬ 
va  para  a  demonstração  real  da  so¬ 
brevivência  do  espirito. 

Não  pretendemos  afirmar  que  tes¬ 
temunhámos  todos  os  fenômenos  psí¬ 
quicos  ou  metapsíquicos,  porém,  te¬ 
mos  as  nossas  observações  pessoais 
no  terreno  experimental. 

O  material  colhido  ainda  é  pe¬ 
queno,  mas,  valioso  e  animador. 

tia  uma  ansia  muito  acentuada 
da  parte  de  todos  que  veem  acom¬ 
panhando  o  surto  extracrdinario  que 
tern  tido  o  Espiritismo  em  nosso  país, 
não  obstante  a  charlatanice  que  exis¬ 
te  por  toda  a  parte,  e  os  tartufos 
guindados,  pelos  de  boa  fé,  a  gran¬ 
des  beneméritos. 

Algumas  experiências  já  veem 
sendo  teitas,  principalmente  em  nosso 


Estado,  e  depois  de  uma  série  de 
conferências  radiofônicas  levadas  a 
afeito  pelo  devotado  confrade  Odilon 
Negrão,  que  vem,  de  se  tornar  uma 
revelação,  das  mais  brilhantes  no  seio 
da  familia  espírita.  A  sua  cultura  é 
sólida,  e  os  seus  dotes  oratórios  são 
de  moldes  entusiásticos  e  convincen¬ 
tes,  porque  a  sua  erudição  tem  por 
base  um  acervo  abundante  de  factos 
concretos  e  excelentemente  valiosos. 
Assim  sendo,  tem  êle  despertado  um 
interesse  fóra  do  comum  em  todos  os 
meios,  espíritas  e  não  espíritas,  para 
os  estudos  dos  fenômenos  psíquicos, 
maximé,  para  os  da  escrita  e  voz-di- 
réta. 

O  nome  de  Odilon  Negrão  an¬ 
tes  de  se  evidenciar  nos  meios  espí¬ 
ritas,  já  tinha  a  sua  reputação  firma¬ 
da  como  literato  e  jornalista  a  des¬ 
peito  da  modéstia  que  o  carateriza. 
Os  factos  e  acuradas  observações,  le¬ 
varam-no  a  se  dedicar  com  grande 
amor  ac  estudo  dos  fenômenos  su- 
pra-normais,  constituindo  para  tanto, 
no  próprio  lar,  o  seu  laboratório  de 
pesquisas.  Organizou,  com  redusidis- 
simo  número  de  amigos,  o  seu  nú¬ 
cleo  familiar,  sendo  a  sua  exma.  esposa 
o  médium  principal.  Tivemos  a  ventura 
de,  inícialmente,  fazer  parte  desse 
grupo,  do  qual  nos  afastámos  em  con¬ 
sequência  da  transfrência  de  nossa 
residência.  No  entanto,  não  obstante 
encontrarmo-nos  distanle,  vimos  acom¬ 
panhando  o  desenrolar  de  suas  ex¬ 
periência  que,  dia  a  dia,  vão  tendo 
desenvolvimento. 

A  experiência  que  temos  adqui¬ 
rido  não  só  nos  trabalhos  do  grupo 
familiar  constituídos  por  Odilon,  como 
nas  precedentes,  quando  desempenha¬ 
vamos  o  cargo  de  diretor  da  Secre¬ 
taria  da  Sociedade  Metapsíquica  de 
São  Paulo,  nos  animou  a  continuar¬ 
mos  com  as  perquisições  em  outro 
setôr.  Organizámos  para  esse  fim,  um 
grupo  íntimo  em  São  Vicente,  contan¬ 
do  com  a  boa  vontade  de  um  mé¬ 
dium  —  espirita  de  ha  muitos  anos 
snr.  Francisco  Serpa  que  se  nos  afi¬ 
gurou  dotado  de  faculdades  para  os 
fenômenos  de  efeitos  físicos  e,  talvez 
para  os  de  voz-diréta  ou  materializa¬ 
ções. 

Os  resultados  obtidos,  logo  de 
início,  e  com  grande  surpresa  nossa. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


355  — 


leem  sido  promissores,  mau  grado  u~ 
ma  série  enorme  de  dificuldades  que 
temos  deligenciado  vencer. 

Em  próxima  crônica  narraremos 
algo  do  que  temos  colhido,  e  o  fa¬ 
remos  com  o  propósito  de  incentivar 
os  interessados  a  constituírem  tam¬ 
bém  os  seus  grupos  íntimos  para  os 
estudos  e  perquisições  dessa  natu¬ 


reza.  Entretanto,  é  preciso  repetir,  os 
que  não  estiverem  devidamente  pre¬ 
parados,  não  deverão  se  meter  em 
tais  emprezas.  Antes  de  tudo  faz-se 
mister  o  conhecimento  das  obras  fun¬ 
damentais  do  Espiritismo:  não  haja 
descura  alguma  nesse  sentido. 

Santos — Novembro,  1959. 


NOVOS  RUMOS  Á  MEDICINA 

■  =t—  — ==  DR.  IGNACIO  EERRE1RÀ  ' ~ 


A  observação  do  enfermo  de  que 
vamos  tratar  hoje,  é  bastante  interessante 
por  encerrar,  em  si,  não  só  provas  corro¬ 
borando  conceitos  já  dispendidos  em  ou¬ 
tros  artigos,  como  também,  servindo  de 
padronização  para  outros  conhecimentos  e 
outras  experimentações  ! 

E’  um  dos  casos  típicos  de  encontro 
aos  quais  a  ciência  médica  oficial,  a-pesar- 
de  todos  os  seus  conhecimentos  e  todos 
os  seus  recursos,  tem  que  lutar,  improfi¬ 
cuamente,  para  explicar  a  etiologia  e  fun¬ 
damentar  um  diagnóstico  para,  criteriosa¬ 
mente,  lançar  mãos  dos  recursos  terapêu¬ 
ticos  necessários  á  cura  dos  doentes. 

E  o  prognóstico  ? 

Só  poderia  ser  bastante  duvidoso,  e 
mesmo,  fatal,  não  só  ante  os  distúrbios 
completos  de  que  se  ressentia  o  organis¬ 
mo,  como  também,  ante  os  sintomas  do¬ 
minantes  e  caraterísticos  de  uma  perfeita 
e  perigosa  alienação  mental.  Esse  paciente 
chegou,  ao  Sanatório,  completamenue  a- 
marrado  com  cordas  fortes,  pois  havia 
sempre  necessidade  do  auxílio  de  várias 
pessoas  para  contê-lo,  no  estado  de  agita¬ 
ção  violenta  e  constante,  em  que  se  acha¬ 
va  comumente. 

Olhar  desvairado,  demonstrando,  ora 
ódio,  ora  terror,  assombrado  com  qual¬ 
quer  cousa  que  se  lhe  passava  em  torno 
e  da  qual  era  a  única  testemunha,  gritan¬ 
do,  falando,  sem  cessar,  palavras  e  frases 
incoerentes,  sem  nexo,  sem  sentido  algum. 

Livre  das  cordas  que  o  continham, 
continuara  a  ter  as  crises  de  grande  agi¬ 
tação,  com  idéias  aterrorizadoras  e  fenô¬ 
menos  alucinatórios. 

Desorientação  de  tempo  e  espaço, 
sem  memória  e  sem  raciocínio. 

A  ciência  oficial,  após  inúmeros  e 


dispendiosos  exames  e  análises  de  labora¬ 
tórios,  catalogá-lo-ia,  naturalmente,  como 
um  caso  de  psicose  infeciosa ,  fórma  aluci¬ 
natória  ou  aguda. 

Viriam,  logo,  os  medicamentos  apro¬ 
priados  e,  no  fim  de  um  certo  tempo,  tal¬ 
vez,  o  paciente  estivesse  bom,  represen¬ 
tando,  a  sua  cura,  mais  uma  prova  do  po¬ 
der  e  da  sapiência  dos  homens  da  ciência 
oficial . . . 

Como  médico  espiritualista  que  o 
somos,  reconhecemos  logo  tratar-se  de 
um  caso  de  obsessão,  embora,  para  ela 
houvesse,  no  físico  do  enfêrmo,  natural¬ 
mente,  uma  porta  aberta  para  que  ela  se 
processasse. 

Em  vista  do  diagnóstico  e  em  vista 
do  organismo  do  paciente  estar  em  con¬ 
dições  de  suportar  a  causa  etiologica  — 
ação  maléfica  de  entidades  invisíveis  e  in¬ 
teligentes,  desconhecedoras  do  estado  de 
desencarnadas,  segundo  nos  parecia,  não 
nos  preocupámos  com  análises  dispendio¬ 
sas,  pesquisas  demoradas  e,  nem  tão  pou¬ 
co,  com  terapêutica  medicamentosa,  por 
vezes  só  acessível  aos  privilegiados  de 
fortuna. 

O  único  socorro  feito  e  permitido, 
foi  proporcionar-se  ao  doente,  um  banho 
higiênico,  rápido  e  contêr  a  sua  agitação 
em  cama  apropriada,  amarrado,  esperando 
pelas  fases  de  acalmia. 

Durante  os  primeiros  15  dias  essas 
fases  de  calma  foram  raras  e  de  pouca 
duração,  motivo  pelo  que  estava  quasi 
constantemente  amarrado,  quer  durante 
o  dia,  quer  durante  as  noites,  que  passa¬ 
va  insones,  com  inquietação  acentuada. 

Alimentação  artificial,  com  um  tra¬ 
balho  insano,  mas  persistente. 

Nenhum  exame  de  laboratório. 


—  356  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Nenhuma  análise  e  pesquisa  e,  nem 
tão  pouco,  medicamentos  capazes  de  au¬ 
xiliar  o  organismo  na  reação  contra  o 
mal  ou  os  males  que  poderiam  estar  sa¬ 
crificando  aquele  corpo  moço  e  forte. 

Todos  os  sintomas  de  obsessão  a  nós 
proporcionados  pela  prática  de  tantos  anos 
e  com  dezenas  de  casos  idênticos,  permi¬ 
tiam  essa  atitude. 

Além  disso,  nosso  diagnóstico  que 
poderia  ser,  também,  falível,  foi  confir¬ 
mado  por  médium  vidente  que  sempre 
notou,  junto  do  enfermo,  várias  entidades, 
com  todos  os  caraterísticos  de  estrangei¬ 
ros  e  demonstrando  desconhecimento  do 
estado  de  desencarnado. 

Como  dissemos  linhas  atrás,  a  me¬ 
dicina  oficial,  após  dispendiosos  e  inúme¬ 
ros  exames  de  laboratórios,  entraria  com 
a  sua  terapêutica  e 
após  certo  tempo,  o 
paciente  estaria  cu¬ 
rado. 

De  facto,  assim  a- 
contece  na  mór  par¬ 
te  das  vezes,  pois  que 
a  maioria  desses  ca¬ 
sos  são  provocados 
por  entidades  igno¬ 
rantes  do  estado  de 
desencarnados  e  que, 
pelos  sentimentos 
bons  de  que  são  do¬ 
tadas,  ou  por  si  mes¬ 
mas  ou  pelo  auxílio 
de  outras  entidades 
amigas  reconhecem 
logo  a  mutação  de 
estado  e  se  afastam  do  paciente  que  tan¬ 
to  prejudicavam  inconcientemente. 

Si,  em  vez  de  um  caso  de  subjuga¬ 
ção  o  fosse  de  possessão  devido  a  entida¬ 
des  concientes  do  seu  estado  e  movidas 
pelo  ódio  e  pela  vingança,  estaria  a  ciên¬ 
cia  oficial  defronte  um  caso  por  ela  re¬ 
putado  incurável,  como  existem  centenas, 
milhares,  espalhados  pelo  mundo  inteiro. 

A  ciência  oficial  atribúe  a  cura  da¬ 
queles  á  proficiência  da  sua  terapêutica 
quando,  para  o  caso  propriamente,  ela  de 
nada  valeu  e  de  nada  valerá. 

Com  o  auxílio  do  Espiritismo  cien¬ 
tífico  obteria  a  cura  de  todos  aqueles, 
quer  fossem  subjugados  ou  dominados  por 
entidades  inconcientes,  quer  pelas  concien¬ 
tes  e  agindo  por  maldade  e  por  vingança, 
lançando  tantos  infelizes  no  rói  dos  incu¬ 
ráveis. 


Sem  esse  auxílio,  continuará  impo¬ 
tente,  incapaz  de  dar,  pelo  menos,  um  a- 
lívio  a  esses  sofredores. 

Durante  20  dias  esperamos  pelos  a- 
contecimentos,  acompanhando  todas  as  fa¬ 
ses  para  a  perfeita  orientação  e  documen¬ 
tação  do  nosso  estudo,  na  expectativa  da 
atenuação  dos  sintomas  de  agitação  e  de¬ 
sorientação. 

Todavia,  esse  estado  de  agitação  era 
demasiado  forte  e  o  organismo  do  pacien¬ 
te  começava  a  se  ressentir  devido  o  cons¬ 
tante  esforço  despendido. 

Assim,  sendo,  organizámos  no  dia 
3/5/39»  0  nosso  costumeiro  trabalho  cien¬ 
tífico  e,  assim,  se  manifestou  uma  primei¬ 
ra  entidade  :  — 

«Não  sei  de  nada;  não  sei  de  na¬ 


da.  Não  entendo  cousa  alguma;  tudo 
é  «desconhecido  aqui  e  já  me  sinto  ator¬ 
mentado  com  tanta  cousa  exquisita. 

Aqui  estou  há  muitos  dias.  Vim 
para  essas  terras,  como  quem  vai  ao  acaso. 

Tudo  está  confuso.  Não  sei,  ao 
certo,  para  que  vim  e  com  que  inten¬ 
ção.  Estou  sem  destino. 

Meus  companheiros,  também,  es¬ 
tão.  Somos  três. 

Sou  português,  mas  meus  compa¬ 
nheiros  são  italianos,  e  desde  que  nos 
encontrámos,  tornámo-nos  amigos,  ir¬ 
manados  pelo  destino  que  nos  deixou 
sem  casa,  sem  abrigo  e  sem  família,  an¬ 
dando  ao  Deus  dará. 

Vejo-me  em  terras  estranhas,  ora 
aqui,  ora  alí,  sem  conseguir  uma  esta¬ 
bilidade. 

Pobre  deste  rapaz  !  Está  sofrendo 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  357 


muito.  Encontrei-o  tão  mal,  tão  ruim 
da  sua  cabeça,  das  suas  idéias  ! 

Seus  amigos  pediram  para  que  o- 
lhasse  por  ele.  Está  muito  impressiona¬ 
do,  vendo  cousas  desastrosas  e  vejo-me 
obrigado  a  segurá-lo. 

Meteu-se-lhe,  na  cabeça,  que  vão 
prendê-lo,  levá-lo  para  a  cadeia  e  tor- 
turá-lo.  Não  queremos  fazer-lhe  mal, 
pois  somos  seus  amigos. 

Chegámos  a  sua  casa  e  ele  ficou 
perturbado,  pois  não  esperava  por  es¬ 
ses  companheiros.  Queremos  falar  com 
ele,  com  bons  modos,  explicando  que 
somos  amigos,  mas  êle  fica  zangado  e 
não  liga  importância  ás  nossas  palavras. 

Nessa  casa,  não  me  tratam  como 
queria.  Si  falo,  não  se  importam.  Estou 
queixoso  com  isso. 

Ha  três  dias  que,  apesar  dos  pro¬ 
testos  dos  meus  companheiros,  uns  ho¬ 
mens  que  estavam  aqui,  os  levaram,  não 
sei  para  onde.  O  certo  é  que  foram 
contra  a  vontade  e  ainda  não  voltaram. 
Aqui  fazem  cousas  arbitrárias  e  como 
vocês  permitem  isso  ? 

Eu  prometi  aos  meus  companhei¬ 
ros  que  não  deixaria  o  nosso  amigo, 
sósinho,  enquanto  ele  estivesse  assim  e, 
no  entanto,  esse  pessoal  aqui  não  deixa 
que  eu  me  aproxime  do  doente  para 
conversar  ou  ajudá-lo. 

Nessas  condições,  não  quero  con¬ 
tinuar  aqui,  e  apelo  para  os  vossos  co¬ 
rações,  pedindo  um  recurso  para  voltar 
para  o  Estado  de  São  Paulo.  Tenham 
paciência ;  como  bons  cristãos,  auxi¬ 
liem-me.  Não  tenho  documentos,  pa¬ 
peis  de  identificação,  nada,  a  não  ser  a 
graça  de  Deus.  Fui  roubado  nos  vneus 
papeis  e  voltando  ao  consulado,  pedi, 
roguei,  mas  ninguém  me  deu  a  mínima 
atenção.  Levo  vida  de  um  pobre  dia¬ 
bo  e,  embora  doente,  farei  por  dar  con¬ 
ta  do  trabalho  que  me  destinarem... 

Notando  o  cansaço  do  médium,  que 
já  demonstrava  dificuldades  em  transmi¬ 
tir  mais  pormenores,  pedimos  àquela  som¬ 
bra  amiga  para  continuar,  ainda,  uns  dias, 
no  Sanatório,  enquanto  providenciaríamos 
a  respeito  dos  recursos  necessários  para  a 
sua  volta  ao  Estado  de  São  Paulo. 

Por  essa  manifestação,  o  espírito  pa¬ 
tenteava  a  sua  ignorância  de  estado,  jul¬ 
gando-se,  ainda,  no  mundo  da  matéria  e 
contribuindo  com  a  sua  aproximação,  in- 
concientemente,  para  o  desiquilíbrio  men¬ 
tal  do  nosso  doente. 


E’  bem  grande  o  numero  de  obses¬ 
sões  nas  quais  notamos  o  papel  desempe¬ 
nhado  por  esses  pobres  espíritos  ainda  in- 
concientes  da  sua  transmutação,  ignorân¬ 
cia  aproveitada  por  entidades  inteligentes, 
deles  se  servindo  como  comparsas  para  os 
seus  planos. 

Geralmente  são  entidades  boas  e  in¬ 
capazes,  pela  grandeza  de  coração,  de  pra¬ 
ticar  o  mal,  intencionalmente,  e  fáceis, 
por  isso,  de  serem  afastadas. 

Só  lhes  faltam  essas  oportunidades 
proporcionadas  pelas  sessões  de  doutrina¬ 
ções,  aliás,  o  campo  mais  vasto  que  se  a- 
presenta  aos  espíritas  para  a  prática  da 
caridade. 

O  nosso  paciente  já  havia  obtido 
melhora  extraordinária,  quando  se  nos  ofe¬ 
receu  oportunidade  para  nova  palestra 
com  essa  sombra  errante,  dela  ouvindo 
mais  pormenores,  e,  assim,  conseguindo  as 
nossas  observações,  o  que  se  deu  em  3  de 
Maio  do  mesmo  ano,  isto  é,  dias  após  a 
primeira  manifestação.  Incorporado,  assim 
falou  :  — 

«Voltei,  aqui,  receioso  e  não  que¬ 
ro,  mesmo,  continuar  nesta  casa  e,  sim, 
ficar  onde  estava.  Onde  ?  Não  sei  ex¬ 
plicar. 

O  certo  é  que  o  lugar  não  é 
ruim.  Somos  uma  porção  e  entre  os 
demais  sinto-me  confortado  pois,  todos 
animam  uns  aos  outros. 

Fui  muito  infeliz.  Vivi  muito 
tempo  naquele  estado,  sem  saber  que 
havia  morrido,  andando  para  aqui  e  pa¬ 
ra  alí,  sem  poder  parar  em  parte  alguma. 

Não  me  recordo  da  minha  famí¬ 
lia.  Não  conheci  pai  e  nem  mãe.  Fui 
criado  por  uma  tia.  Vivia  em  Trípoli, 
trabalhando  como  tosquiador,  prolissão 
que  pouco  rendia. 

Sendo  sósinho,  no  mundo,  resol¬ 
vi  emigrar  e  vim  para  o  Brasil  em  com¬ 
panhia  de  outros  companheiros,  uns  15 
mais  ou  menos.  Chegámos  em  um  Por¬ 
to,  de  cujo  nome  não  me  recordo.  Lá, 
passamos  uma  vida  miserável,  dormin¬ 
do,  ao  relento  e  achando  tudo  exquisi- 
to,  pois  ninguém  nos  dava  atenção. 

Escondidos,  tomamos  um  navio  e 
descemos  em  outro  porto — dizem  que 
Santos. 

Alí,  a  mesma  cousa — sem  empre¬ 
go  e  sem  recursos.  Tomamos  um  trem 
e  fomos  até  S.  Paulo.  Alguns  compa¬ 
nheiros  sumiram  e  eu,  com  os  três  res- 


-  358  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


tantes,  fomos  andando  e  viajando,  a 
procura  de  um  serviço  qualquer. 

Em  Jundiaí,  na  estação,  encontra¬ 
mos  um  amigo  e  nos  sentimos  bastante 
satisfeitos  pois  estavamos  sem  nenhum 
recurso,  embora  recorressemos  a  um  e 
a  outro. 

Ele  nos  disse  que  residia  em  Jun¬ 
diaí  e  nos  convidou  para  que  fossemos 
para  uma  fazenda.  Lá  chegando,  assistí 
a  uma  discussão  tremenda,  discussão 
travada  entre  esse  rapaz  e  outros  sujei¬ 
tos,  por  causa  de  terras. 

Ficamos  com  dó  do  rapaz  e  co¬ 
mo  êle  estava  muito  nervoso,  viemos 
ajudar  á  trazê-lo  para  essa  casa.  Aqui 
chegando,  um  senhor  não  deixou  meus 
companheiros  ficar  junto  dele.  Para  evi¬ 
tar  que  êle  brigasse,  ficava  conversan¬ 
do,  procurando  distraí-lo.  Não,  não  o 
conhecia.  Yim,  apenas  ajudar  a  trazê- 
lo,  vigiando  para  que  não  brigasse.  Não 
sabia  que  havia  morrido  e  se  fiz  mal  a 
êle,  não  o  fiz  por  gosto  e  por  prazer. 

Quero  voltar  para  onde  estava. 
Pelo  menos  tenho  onde  ficar,  evitando 
essas  caminhadas,  sem  destino». 

Após  agradecermos  suas  informações 
e  o  alentarmos  com  a  lembrança  da  bon¬ 
dade  e  da  grandeza  de  Deus,  o  aconse¬ 
lhamos  para  que  voltasse,  de  facto,  para 
o  lugar  onde  se  sentia  tão  bem,  a  espera 
de  novas  determinações  desse  Poder  Su¬ 
premo,  cuja  sabedoria  mais  uma  vez  cons¬ 
tatavamos,  ante  aquela  palestra  de  um 
vivo  com  um  morto . . . 

Um,  sondando  o  país  dos  mortos,  e 
outro,  voltando  ao  país  dos  vivos,  forne¬ 
cendo  indicações  da  sua  passagem  terrena  ! 

Ah  !  Humanidade  ! 

Quão  feliz  será  quando  tiver  a  per¬ 
cepção  e  a  capacidade  precisa  para  rece¬ 
ber  as  mensagens  e  os  ensinamentos  dos 
reputados  mortos  ! 

Nossa  observação  ainda  não  estava 
completa,  pois  essa  pobre  entidade,  nada 
mais  havia  sido  que  um  simples  joguete 
de  outra  ou  outras  entidades  mais  inteli¬ 
gentes  e  concientes  do  seu  estado  ! 

Pacientemente,  esperamos  por  essa 
manifestação,  pois,  a-pesar-de  ignorarmos 
os  preceitos  que  .  regem  o  mundo  espiri¬ 
tual,  sabemos,  contudo,  que  eles  existem, 
pois  as  provas  têm  sido  por  de  mais  pa¬ 
tentes  para  isso. 

Quais  seriam  os  designios  que  nos 
forçavam  a  espera  ? 


O  tempo  continuou  na  sua  marcha 
imutável  e  tivemos  o  prazer  de  vêr  o 
nosso  doente  completamente  restabelecido 
e  o  desprazer  de  vê-lo  retornar  ao  seu 
lar,  deixando  o  Sanatório. 

Sim,  como  médico,  no  campo  da 
ciência  e  da  investigação,  nos  sentimos  fe¬ 
lizes  por  mais  um  resultado  brilhante  pe¬ 
la  prova  que  juntavamos  ás  demais,  pa¬ 
tenteando,  mais  uma  vez,  o  que  sempre 
temos  dito :  —  Só  o  Espiritismo  póde  cu¬ 
rar  e  cura  uma  proporção  enorme  dos 
casos  de  loucura,  o  que  a  medicina  dos 
homens  não  aceita,  mas  não  consegue  curar. 

Era  a  satisfação  da  vitoria  daquele 
que  tem  procurado  defender  uma  causa 
justa  e  tão  vilipendiada,  presenciando,  ain¬ 
da  uma  vez,  a  capacidade  e  a  grandeza 
humilde  de  uma  pleiade  de  médiuns  ab¬ 
negados  que  nem  mesmo  sabem  dar  valor, 
por  humildade  e  desprendimento,  á  ma¬ 
nifestação,  por  seus  intermédios,  da  gran¬ 
deza  e  do  poder  de  Alguém  a  que,  só  a 
intuição,  tem  capacidade  de  atingir  . . . 

Médiuns  amigos,  companheiros  de 
todos  os  dias  —  a  vossa  missão  é  tão  su¬ 
blime  e  tão  grandiosa  que  deponho,  en¬ 
vergonhado,  todos  os  meus  conhecimen¬ 
tos  e  todos  os  meus  estudos  nas  vossas 
mãos  calejadas  pelo  trabalho  arduo  e  pe¬ 
sado,  curvando  a  minha  pobre  sabedoria 
e  a  minha  falha  ciência,  ante  a  sublimi¬ 
dade  do  vosso  parco  conhecimento  ! 

Continuai  na  vossa  senda. 

Ela  é  pejada  de  espinhos  mas  os  be¬ 
nefícios  que  proporcionais  á  Humanidade 
sofredora  e  ingrata,  são  tantos,  que  eles 
se  transformarão  em  alfombras  sobre  as 
quais  caminharão  os  vossos  espíritos,  quan¬ 
do  se  dirigirem  ao  estrado  iluminado  pe¬ 
la  irradiação  desse  Supremo  Poder  que 
não  vemos,  mas  pressentimos . . . 

Sim,  como  homem,  o  desprazer  de 
vê-lo  partir,  alegre  e  satisfeito,  ansioso  de 
revêr  a  esposa  e  atenuar,  com  beijos  e 
carinhos,  as  saudades  dos  filhos  já  inquié- 
tos  pela  sua  ausência  .  .  . 

Sim,  como  homem,  esse  desprazer, 
pois  embora  vivendo  dia  e  noite  entre 
soluços,  gemidos  e  lamentos,  o  nosso  co¬ 
ração  ainda  se  sensibiliza  ante  a  tortura 
da  partida,  pressentindo  a  ausência  e  a 
saudade  por  uma  criatura  a  quem  nos  li¬ 
gava  uma  simpatia  e  amizade  naturais  . . . 
Quem  sabe  . . .  cousas  de  existências  pas¬ 
sadas  ? 

(Continua). 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


359 


Rs  Relíquias  do  Cristo 

Extrato  do  Boletim  religioso  «  LE  GALLICAN »,  dirigido  pelo  Bispo  L.  F.  Giraud,  pa¬ 
triarca  da  Igreja  Gallicana,  em  Gazinet  (Gironde). 


Grande  é  a  veneração  da  Igreja 
Católica  pelas  relíquias  de  santos.  Es¬ 
te  sentimento  é  muito  justo  e  não  se 
poderia  reprovar  a  homenagem  que 
se  lhes  tributa.  Conservamos  com  res¬ 
peito  as  lembranças  de  nossos  pais. 
Às  dos  santos  ainda  são  mais  precio¬ 
sas.  Mas  que  dizer  então  das  relí¬ 
quias  do  nosso  Divino  Mestre!  do 
Cristo  lesus! 

Às  relíquias  do  Cristo!  Que  te¬ 
souro  inestimável!  Mas  parece-nos 
que  uma  grande  circunspeção,  diga¬ 
mos  melhor,  um  cepticismo  arrazoa¬ 
do,  deve  guiar  o  crente  na  aprecia¬ 
ção  da  autenticidade  desses  vestí¬ 
gios  sagrados.  E  o  respeito  infinito 
que  nós  lhes  concedermos,  se  elas 
forem  verdadeiramente  autênticas,  de¬ 
ve  nos  inspirar  uma  sábia  reserva  e 
mesmo  uma  justa  desconfiança  em 
face  desses  froféus  da  credulidade. 

Primeiro  que  tudo,  essas  relí¬ 
quias  são  muitas.  Sem  falar  das  tú¬ 
nicas  sem  costura  de  Àrgenteuil  e  de 
Treves,  tecidas  pelas  próprias  mãos 
da  Virgem  Maria,  os  sudários  do  Di¬ 
vino  Salvador  são  em  quantidade 
verdadeiramente  desconcertante.  Eis 
aqui  urra  breve  nomenclatura,  que  nãc 
garantimos  estar  completa,  a-p&sar- 
de  sua  impressionante  extensão. 

Conhecemos  o  Santo  Sudário 
de  Turim,  trazendo  impressa,  duas 
vezes,  a  imagem  de  Nosso  Senhor 
visto  de  frente  e  de  costas  e  mos¬ 
trando  manchas  purpureadas  de  san¬ 
gue  e  de  aromáticos.  Embora  esta 
insigne  rei  quia  tenha  sido  interpreta¬ 
da  pela  ciência  —  arqueologia,  histó¬ 
ria,  iconografia  e  lógica  —  e  que  os 
peritos  a  tenham  examinado  com  to¬ 
da  a  arte  possível,  houve  treze  lon¬ 
gos  séculos  anteriores  ao  ano  de 
1353,  durante  os  quais  não  podemos 
seguir  este  sudário,  e  esta  lacuna  re¬ 
duz  consideravelmente  o  seu  valor 
histórico. 

Mas  este  sudário  não  é  único. 


Por  4.  DUCÂSSE—  HARISPE. 

Existe  o  Santo  Sudário  de  Cahors, 
com  cinco  manchas  de  sangue.  Ele 
tem  a  fórma  dum  longo  toucado  que 
se  prende  sob  o  mento  e  se  compõe 
de  oito  dobras  superpostas  em  fino 
linho  do  Egito.  Àcredita-se  que  esta 
coifa  foi  uma  dádiva  de  Carlos  Ma¬ 
gno  a  Cahors.  Ainda  hoje  ela  é  ob¬ 
jeto  de  grande  veneração. 

Ha,  além  deste,  o  Sudário  de 
Bensançon,  composto  de  dois  panos 
unidos  por  costura  delicada.  Ele  tra¬ 
zia  a  efígie  de  Nosso  Senhor,  as  mãos 
ligadas  uma  a  outra. 

Não  é  só.  O  Sudário  de  Car - 
cassonne,  conservado  na  capela  do 
hospital  de  Pont,  com  um  ligeiro  bor¬ 
dado  em  seu  derredor. 

Não  nos  esqueçamos  do  Sudᬠ
rio  de  Mayença,  que  foi  doado  por 
São  Cunegundes  á  Santa  Bithilde.  Es¬ 
ta  remeteu  a  metade  ao  bispo  de 
Mayença  para  sua  catedral  e  conser¬ 
vou  a  outro  metade  para  seu  mostei¬ 
ro  de  Àltenmunster.  Esta  fração  é 
grandemente  venerada  na  paróquia 
de  S.  Emmeran. 

À  lista  não  termina  aqui.  Men¬ 
cionemos  o  Sudário  de  S.  loão-de- 
Latrão,  de  grande  dimensão  a  julgar 
pela  sua  espessura,  porque  não  no 
mostram  senão  dobrado  no  dia  de 
Páscoa.  O  tecido,  muito  fino,  confém 
fios  de  ouro  e,  naturalmente,  tarnbem 
algumas  manchas  de  sangue. 

E’  preciso  ajuntar  a  esta  lista 
pouco  banal  o  famoso  Sudário  de 
Cadouin,  em  Périgord,  muitas  vezes 
salvo  das  chamas  e  tendo  produzido 
numerosos  milagres.  Quatorze  sobe¬ 
ranos  pontificais  consagraram,  por 
meio  de  bulas,  este  santo  tecido  á 
devoção  — de  Clemente  111  a  Pio  XI  - 
afirmando  sua  autenticidade.  Reis  e 
bispos  rivalizaram  em  zêlo  com  os 
papas:  São  Luiz,  Carlos  V,  Carlos  VI, 
Carlos  VII,  Luiz  XI,  Luiz  XII  protege¬ 
ram  e  dotaram  a  abadia  de  Cadouin 
com  rendas  perpétuas. 


-  360  - 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


Ajuntemos  a  esta  lista  bastante 
longa,  a  Santa  Faixa  de  Nosso  Se¬ 
nhor.  Era  uma  tira  de  pano  de  que 
se  serviram  os  judeus  para  vendar  os 
olhos  do  Salvador,  ao  tempo  da  Pai¬ 
xão,  quando  o  açoitavam,  dizendo ; 
«Cristo,  profetiza,  e  dize  quem  te  bate». 
Esta  preciosa  relíquia,  da  qual  só  res¬ 
ta  pequena  parte,  sempre  acompa¬ 
nhou  o  Santo  Sudário  de  Péiigord. 

Alguns  destes  sudários  sofreram 
desastres.  Durante  a  Revolução  fran¬ 
cesa,  o  Sudário  de  Compiègne  desa¬ 
pareceu  sem  deixar  vestígio ;  o  de 
Besançon,  célebre  por  seus  milagres, 
sofreu  a  mesma  sorte  durante  aquele 
período  agitado;  o  semi- sudário  de 
Maiyença  desapareceu  do  mesmo  mo¬ 
do,  no  começo  do  século  passado, 
quando  da  invasão  francesa. 

Quanto  ao  de  Cadouin,  o  atual 
bispo  de  Périgueux,  M.  Louis,  com  u- 
ma  coragem  que  muito  o  honra,  aca¬ 
ba  de  relega-lo  ao  rol  das  coisas  as 
mais  profanas,  pondo  simultaneamen¬ 
te  um  termo  ás  peregrinações,  aos 
milagres,  que  não  tinham  nenhuma 
razão  de  ser.  Os  dois  bordados  ca¬ 
raterísticos  desta  bela  mortalha  eram 
considerados  a  melhor  prova  de  sua 
autenticidade,  porque  «sempre  seria 
impossível  confundi-la  com  outro  pa¬ 
no». 

Ora,  os  mencionados  bordados 
ostentam  caracteres  que  foram  reco¬ 
nhecidos  como  sendo  arábicos  1  A 
peça,  genuinamente  mussulmana,  da¬ 
ta  do  fim  do  século  XI,  e  teria  vindo  á 
Erança  ao  tempo  da  primeira  cruza¬ 
da.  Edificante  é  a  tradução  destes 
caracteres.  Que  o  leitor  julgue  por 
este  fragmento  : 

«Em  nome  de  Deus  clemente  e 
misericordioso. 

«Só  ha  um  Deus  que  é  Allah, 
sem  associado. 

«Mahomet  é  o  enviado  de  Allah. 
Que  a  benção  de  Deus  desça  so¬ 
bre  eles  e  sôbre  os  membros  de 
suas  famílias.» 

Assim,  esta  devoção  multicente- 
nária  é  devida  a  um  erro  coletivo  do 
qual  participaram  papas,  santos  (ho¬ 
je  canonizados),  reis,  sábios,  e  inume¬ 
rável  muitidão  de  crentes. 

Ao  mesmo  tempo  deve  desapa¬ 
recer  da  circulação  o  véu  de  Santa 


Ana,,  mãe  da  T.  S.  Virgem,  tecido  con¬ 
servado  na  catedral  de  Àpt  (Vauclu- 
se);  tecido  e  legenda  que  são  paren¬ 
tes  próximos  do  sudário  de  Candouin 
e  mui  provavelmente  forjados  na  mes¬ 
ma  fábrica  de  tecidos  do  Alto  Egito. 

Quantas  relíquias  existem  no 
mundo,  sem  outro  valor  além  do  que 
lhes  dá  a  credulidade.  Um  volume  in¬ 
teiro  não  seria  suficiente  para  relatar 
as  falsas  relíquias  que  atravancavam 
os  santuários  da  cristandade.  Citemos 
um  único  exemplo,  que  dará  ideia  da 
amplitude  das  piedosas  mistificações. 
A  catedrai  de  Oviedo,  que  tem  sido 
na  Espanha  o  centro  e  o  coração  da 
resistência  governamental,  no  fim  de 
1936,  continha  relíquias  realmente  pro¬ 
digiosas.  Julguemos  por  esta  peque¬ 
na  nomenclatura,  talvez  incompleta  : 
lá  se  venera  dois  bocados  da  verda¬ 
deira  cruz,  um  pedaço  do  coração 
de  São  Bartolomeu,  um  fragmento  do 
túmulo  de  Lazaro,  um  dos  trinta  di¬ 
nheiros  de  Judas,  um  fragmento  da 
varinha  de  Moisés,  um  pedaço  do 
pão  multiplicado  no  deserto,  um  ca¬ 
belo  de  Maria  Madalena  e  uma  san¬ 
dália  de  São  Pedro  1 

Não  é  esta  simples  enumeração 
bastante  eloquênte  para  provocar  a 
certeza  absoluta  da  não  autenticida¬ 
de  deste  santo  bazar? 

Vê-se  atualmente,  na  capela  de 
Caserte,  a  sentença  de  morte  contra 
Jesus  Cristo,  gravada  sôbre  uma  pla¬ 
ca  de  bronze  em  lingua  hebraica,  ha 
muito  tempo  conservada  na  sacristia 
dos  Carthusianos,  perto  de  Nápoles. 

c  A  igreja  Santa-Madre-Maior,  em 
Roma,  cuja  origem  maravilhosa  é  co¬ 
nhecida :  a  própria  Virgem  Maria  in- 
cumbiu-se  de  designar,  por  meio 
de  extraordinária  queda  de  neve  em 
pleno  mês  de  março,  o  local  em  que 
se  deveria  edificar  sua  igreja.  Esta 
igreja,  devido  a  esta  circunstância,  foi 
nomeada,  no  V  século,  pelo  papa  Li- 
bério :  Saneia  Maria  ad  nives.  Ela  é 
a  venturosa  depositária...  das  relí¬ 
quias  do  Presépio. 

Um  sábio  descobriu  recentemen¬ 
te  uma  nova  medalha  com  a  efígie  do 
Cristo,  datando  da  época  de  Tibério. 
Segundo  parece,  até  agora  só  eram 
conhecidos  cinco  exemplares  dessa 
medalha. 

Poderiamos  prolongar  indefini- 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  361 


damente  a  lista  das  maravilhosas  ri¬ 
quezas  que  compõem  o  relicário  do 
Cristo.  Não  hesitamos  mencionar  es¬ 
ta  que  se  avantaja  a  todas  as  outras : 
No  decurso  do  ano  de  1931,  desco- 
briu-se,  na  propriedade  de  certo  ci¬ 
dadão  de  Bolbeek  (Syria),  num  tú¬ 
mulo  subterrâneo,  uma  garrafa  mis¬ 
teriosa  contendo  estranho  líquido.  À- 
pós  constatações  irrefutáveis  (natu¬ 
ralmente  1)  seria  mui  simplesmente  o 
sangue  de  Jesus,  o  autêntico  sangue 
do  Salvador  do  mundo.  Este  sangue 
precioso  ainda  repousa  em  Beyrouih, 
tendo  por  altar  o  metal  cromado  de 
uma  burra  1 

Qual  a  conclusão  a  tirar  das 
considerações  precedentes? 

Amemos  a  Deus  com  todo  nos¬ 


so  coração,  com  toda  nossa  alma, 
e  com  todas  nossas  forças;  admire¬ 
mos  N.  S.  J.  C.  invisível  e  presente ; 
veneremos  os  santos  que  nos  deixa¬ 
ram  a  lembrança  de  suas  virtudes. 
Mas  não  nos  deixemos  influenciar  por 
um  culto  material  que  nos  levaria  á 
idolatria,  pura  e  simples.  Professemos 
uma  justa  desconfiança  pelas  insignes 
relíquias  cuja  autenticidade  é  impos¬ 
sível  estabelecer:  o  santo  sangue,  a 
corôa  de  espinhos,  a  lança  de  Login, 
os  cravos  da  crucificação,  etc.,  etc. 
Que  a  sorte  do  Santo  Sudário  de 
Cadouin  nos  imponha  uma  sábia  re¬ 
serva.  Que  este  exemplo,  deixando 
intacta  a  nossa  fé,  nos  preserve  da 
credulidade. 

Ânnales  du  Spiritisme 


Crônica  Estrangeira 


Anunciada  a  venda  de  mais 
um  Templo  Protestante 

Em  Junho  do  ano  p.  findo,  a 

Associação  Espiritualista  de  Glas- 
gow  adquiriu,  pela  soma  de  4  250  li¬ 
bras  (cerca  de  340:000$  papel)  a  ma¬ 
gnifica  igreja  de  St.  Vincent  Street. 
A  aquisição  do  famoso  templo,  que 
é  uma  obra  notável  de  arquitetura, 
prova  o  contínuo  crescimento  do  Es¬ 
piritismo. 

Mencionada  Associação,  ante  a  im¬ 
possibilidade  de  acomodar  verdadei¬ 
ras  multidões  (normalmente  centenas 
de  pessôas  não  encontravam  acesso 
ás  sessões),  em  seu  imóvel  de  Hol- 
land  Street,  via-se  em  face  de  um 
sério  problema  a  resolver,  quando  foi 
posto  á  venda  o  magestoso  templo 
que  resolveu  a  dificuldade. 

O  periódico  inglês,  The  Two  Worlds, 
de  3  de  Novembro,  noticia  o  seguinte  : 

Posto  á  venda  um  Templo  Metodista 

A  Igreja  Metodista  de  Richmond 
Terrace,  cidade  de  Bradford,  cerrou  suas 
portas  por  falta  de  frequência  e  os  síndi¬ 
cos  desejam  ardentemente  que  qualquer 
entidade  religiosa  adquira  o  imóvel.  A 
Igreja  está  sendo  oferecida  pela  quantia 
de  I  250  libras,  e  tem  assentos  para  800 


pessoas.  O  preço  inclue  o  orgão,  recen¬ 
temente  avaliado  em  750  libras.  Aqui  es¬ 
tá,  diz  o  periódico,  uma  oportunidade  pa¬ 
ra  os  espiritistas  de  Bradford  . .  . 

Fotografias  Supranormais 

Gringohe  insere  um  artigo  de  M. 
Pierre  Devaux  sôbre  fotografias  «sobre¬ 
naturais»  que  La  Revue  Spirite  transcre¬ 
ve  em  resumo.  Temos  conservado  nossos 
leitores  ao  corrente  das  notáveis  experiên¬ 
cias  «sobrenaturais»  do  saudoso  doutor  Eu¬ 
gênio  Osty.  do  Instituto  Mitapsiquico  In¬ 
ternacional.  Osty,  munido  de  um  «olho  elé¬ 
trico»  do  tipo  empregado  em  telesvisão,  che¬ 
gou  a  descobrir  as  «substâncias-fantasmas»’ 
que  erram  no  ar  em  volta  dos  médiuns  ;  es¬ 
tes  sêres  vaporosos,  ordináriamente  invi¬ 
síveis  aos  olhos  da  carne,  foram  «vistos» 
pelo  olho  elétrico  (célula  foto  eletrica)  que 
registrou  suas  aparições  sôbre  o  filme 
dum  galvanômetro. 

Pode-se  ir  mais  longe.  Ligando  o 
olho  elétrico,  por  meio  de  fios,  a  um  de- 
flagador  de  magnésio,  consegue-se  que  o 
mesmo  «fantasma»  tome  uma  fotografia. 
Infelizmente,  estas  fotos  deixam  a  desejar; 
seguramente  elas  mostram  que  não  ha 
mistificação  alguma,  que  nenhuma  pessoa 
veio  fraudar  os  aparelhos  na  semiobscuri- 


—  362  — 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


dade  do  laboratório ;  mas  as  fotografias 
não  revelam  qualquer  fórma  flutuante,  ne¬ 
nhuma  mão  material  ;  a  cena  é  vasia. 

E,  a-pesar-de  tudo,  essas  «coisas» 
sem  nome  existem,  essas  mãos  invisiveis 
que,  a  distância,  veem  deslocar  objetos, 
atirar  um  ramalhete  de  flôres,  dobrar  um 
lenço  em  forma  de  barco,  á  vontade  do 
médium  Rudí  Schneider ! 

No  decurso  de  uma  sessão,  excep¬ 
cionalmente  visivel,  Osty  poude  mesmo 
ver  e  mostrar  a  dois  assistentes,  uma  bo¬ 
la  de  «substância  cinzenta»  que  saía  de 
um  angulo  obscuro  e  punha  em  movimen¬ 
to  uma  mesa  de  quatorze  quilos  !  Mas, 
não  obstante  a  instalação  de  raios  ultra¬ 
violetas,  que  custara  uma  fortuna,  jamais 
se  conseguiu  fotografar  o  fenômeno». 

O  autor  parece  ainda  ignorar  a  in¬ 
comparável  obra  de  Mr.  Warrick  sôbre  a 
fotografia  espírita. 

Fotografia  «Estragada»  por 
um  «Extra» 

Psychic  News. 

«Estou  aborrecido  por  ter  estraga¬ 
do  seu  retrato,  David»,  desculpava.se  um 
fotografo  amador  que  havia  tirado  o  re¬ 
trato  de  David  Jewson,  primitivo  presi¬ 
dente  da  Igreja  Espiri  ualista  Universal. 
Ao  lado  de  David  aparecera  outra  figura. 

Mas  Jewson  reconheceu  no  «intruso» 
a  pessoa  de  seu  falecido  sobrinho  e  o  re¬ 
trato  do  espírito  foi  identificado  por  ou¬ 
tros  membros  da  familia. 

Casualmente  Jewson  colocou  a  foto 
entre  as  páginas  de  um  livro  e  este  vo¬ 
lume,  também  por  acaso,  foi  parar  ás 
mãos  de  um  colaborador  do  «Evening 
Cronicle»  que  ha  pouco  publicou  a  foto 
e  sua  história. 

Um  Livro  sôbre  Psiquismo 

«La  Revue  Spirite»  transcreveu  de 
Journal  of  ihe  Americain  S.  P.  R. : 

O  Dr.  Cross,  engenheiro  eletricista 
pela  Universidade  de  Paris  e  antigo  cola¬ 
borador  com  o  Prof.  d’Arsonval,  vai  pu¬ 
blicar  um  livro  sôbre  psiquismo,  do  qual 
mencionado  Journal  reproduz  certas  pas¬ 
sagens 

O  autor  relata  experiências  de  ra- 


diestesia  realizadas  no  imóvel  de  Sydney 
Mail  (Australia),  experiências  de  desloca¬ 
mento  sem  contacto  e  ação  a  distância,  o 
autor  suspendeu-se  a  uma  bola  levitada  e 
foi  pela  mesma  transportado,  a-pesar-de 
ser  de  125  libras  o  seu  peso.  Houve  tra- 
zimento  de  papeis  de  marca  rara,  passa¬ 
gem  da  matéria  através  da  matéria  (um 
tubo  contendo  10  grs.  de  arsênico  colo¬ 
cado  ao  lado  de  outro  contendo  25  grs. 
de  agua  distilada  acabou  por  passar  par¬ 
te  de  seu  arsênico  para  dentro  do  tubo 
de  agua,  lacrado).  Efeiros  luminosos.  Uma 
sessão  de  corneta  tomou  um  caráter  real¬ 
mente  estranho. 

Em  São  Francisco  e  com  o  médium 
Harry  Aldrich,  diversas  entidades  se  ex¬ 
primiram  em  seis  linguas  diferentes.  Uma 
joven  francesa  tomou  a  palavra  através  da 
trombeta,  ao  mesmo  tempo  que  um  estu¬ 
dante  inglês,  morto  de  laringite  (tubercu¬ 
lose)  deu  provas  perfeitas  de  sua  identi¬ 
dade.  Convidada,  a  joven  francesa,  a  re¬ 
petir  o  que  havia  dito,  ela  o  fez  na  g: ria 
do  bairro  em  que  vivera. 

Um  conjunto  de  factos  que  muito 
perdem  em  simples  resumo. 

Da  Sobrevivência 

Ricerca  Psichica. 

...  a  sobrevivência  após  a  morte  a- 
gora  se  transformou  numa  contingência 
pensavel ,  digamos  mesmo,  tornou  se  um 
evento  presumível.  Entra  no  campo  da  fí¬ 
sica  e  da  fisiologia  e  está  admitido  no  do¬ 
mínio  da  ciência.  A  alma  tornou  se  men¬ 
surarei  e  pode  ser  pesada,  e  só  requer 
instrumentos  apropriados  para  se  tornar 
tão  familiar  e  tratavel  quanto  o  organis¬ 
mo  físico.  Que  esta  seja  uma  concessão 
materialista  não  é  uma  objeção  válida, 
porque,  se  toda  matéria  é  dotada  de  vida, 
a  alma  difere  da  matéria  ordinária  porque 
sua  vida  escapa  a  nossa  análise. 

.  .  .  Não  nos  devemos  atormentar, 
portanto,  pelo  destino  dos  sêres  amados 
Eles  foram  desfrutar  um  prazer  mais  de¬ 
licado,  uma  realização  mais  viva  de  sua 
infinita  possibilidade,  livres  da  ponderosa 
argila  que  atravanca  o  caminho  e  retarda 
nossa  jornada.  Eles  habitam  em  outro 
reino  ora  invisível  aos  nossos  olhos,  mas 
que  não  está  longe  e  para  eles  não  exis¬ 
te  obstáculo  intransponível  entre  aquele 
e  o  nosso.  Quando  chegar  o  momento  de 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  363 


a  eles  nos  reunirmos,  nada  obsta  a  que 
apareçam  ante  nossos  olhos  na  fórma  que 
amamos,  e  que  podem  conservar  ;  e  eles 
permanecerão  á  nossa  cabeceira  para  nos 
conduzir  á  nossa  morada  mais  feliz. 

E.  Fornier  d' Albe. 

Evitado  um  acidente  ferro¬ 
viário  ? 

Psychic  News. 

Um  leitor  comunica  o  seguinte  : 

Um  dos  assistentes  do  círculo  fami¬ 
liar  de  Vancouver  é  ferroviário.  Apresen¬ 
tou  se  um  espírito,  ao  qual  o  assistente 
respondia  repetidamente  :  «Sim,  compre¬ 
endo». 

Terminados  os  trabalhos,  êle  decla¬ 
rou  que  um  espírito  lhe  dissera  haver  uma 
falha  na  linha  marginal,  sómente  usada 
em  certas  épocas  do  ano. 

Ele  foi  inspecionar  a  linha  e  verifi¬ 
cou  que  o  gelo  provocara  a  ruptura  de 
um  trilho,  no  ponto  particular  indicado 
pelo  espírito.  Se  a  falha  não  tivesse  sido 
remediada,  a  primeira  locomotiva  teria 
descarrilado. 

A  informação,  declarou  o  recipiente, 
sómente  poderia  ser  fornecida  por  um  fer¬ 
roviário  «morto». 

Uma  criança  de  4  anos  que  se 
recorda  de  sua  vida  anterior 

Light  transcreve  o  seguinte  de  East 
and  West  (índia) :  » 

A  história  de  uma  menina  de  4 
anos  que  revela  factos  de  sua  vida  pre¬ 
cedente  nos  é  relatada  pelo  próprio  pai, 
Mr.  Nand  Lai,  Oficial  Superitendente, 
Fatehpur. 

A  História  começa  no  momento  em 
que  a  criança  articula  suas  primeiras  pa¬ 
lavras,  Mr.  Lai  diz  que,  quando  êle  ha¬ 
bitava  em  Allahabad,  sua  filhinha  sempre 
chorava  ao  pensar  em  sua  antiga  família. 
Mais  tarde,  quando  transferido  para  Fa¬ 
tehpur,  a  criança  reconheceu,  certo  dia, 
a  casa  em  que  vivera,  e  contou  sua  his¬ 
tória,  e  todos  os  detalhes  foram  corrobo¬ 
rados  pelas  pessoas  da  vizinhança.  Ela 
relatou  os  factos  referentes  á  precedente 
existência,  se^  casamento,  a  morte  do 
marido  verificada  em  Allahbad,  recusan¬ 


do  por  outro  lado,  segundo  costume  hin- 
dú,  proferir  o  nome  do  esposo.  Toda  es¬ 
ta  história  foi  narrada  em  seus  mínimos 
detalhes  e  a  menina  reconheceu  rnuitas 
senhoras  das  relações  de  seu  pai,  parti¬ 
cularmente  a  que  era  portadora  de  seis 
dedos  em  uma  das  mãos,  e  essas  mulhe¬ 
res,  por  seu  lado,  pensam  que  a  criança 
não  é  outra  senão  a  mesma  Peshkarim 
que  vivia  na  casa  presentemente  ocupada 
por  Mr.  Lai  em  Fatehpur. 

«A  mulher  dum  brahmane,  curiosa 
por  ver  a  menina,  foi  imediatamente  pela 
mesma  reconhecida  como  sendo  a  senho¬ 
ra  a  quem,  pouco  antes  de  morrer,  lega¬ 
ra  seus  ídolos.  Tudo  era  perfeitamente 
exato,  e  a  mulher  brahmane  levou  a  me¬ 
nina  a  Allaa-bad  para  lhe  mostrar  os 
ídolos.  Ambas  oraram  e  ofereceram  per¬ 
fumes  aos  mesmos. 

0  Mistério  das  Cruzes  enter¬ 
radas  na  Califórnia 

O  Journal  of  the  Ameican  S.  P.  R. 
consagra  algumas  páginas  interessantes  á 
análise  do  livro  de  Mr.  Hamlin  Garland, 
sobre  o  assunto,  de  que  La  Revue  Spirite 
nos  fornece  o  seguinte  resumo  : 

Gregoty  e  Violet  Parent,  por  indi¬ 
cação  de  espíritos ,  exumaram  para  mais 
de  800  cruzes  enterradas  na  Califórnia, 
dentre  as  quais  algumas  cristãs,  mas  a 
maior  parte  com  cabeças  de  animais.  Fei¬ 
ta  a  evocação  dos  espíritos  de  índios  do 
século  XVI  e  de  missionários,  pelo  mé¬ 
dium  Parent  os  mesmos  espíritos  indica¬ 
ram  sinetes  de  ouro  que  remontam  a  mais 
de  50  anos,  que  efetivamente  foram  en¬ 
contrados.  Foi  então  que  Mr.  Garland  ten¬ 
tou,  mediunicamente,  descobrir  novas  cru¬ 
zes  enterradas.  Ele  o  conseguiu,  pois  fo¬ 
ram  exumadas  mais  18  cruzes,  graças  ás 
indicações  das  «vózes»  do  médium  Mrs. 
Williams,  com  a  qual  êle  realizou  sessões, 
sem  que  ela  compreendesse  o  sentido  de 
suas  perguntas,  mas  as  respostas  foram 
ouvidas  por  todas  as  testemunhas.  As  818 
cruzes  teem  uma  origem  misteriosa,  que 
vai  provocar  animados  debates.  Mr.  Gar¬ 
land  compulsou  a  história  da  Califórnia  e 
afirma  já  estar  de  posse  de  documentos 
que  provam  a  existência  da  Cruz,  entre 
os  indios  —facto  até  hoje  ignorado  por  to¬ 
dos  os  missionários  cristãos — muito  antes 
da  chegada  dos  conquistadores  eurcpeus. 


—  364 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


I  Notas  e  F actos  4 


Sir  Conan  Doyle  Retornou  ! 

The  Two  Worlds 

Em  «East  Anglian  Daily  Times»  Mr. 
Denis  Conan  Doyle  reage  a  uma  asserti¬ 
va  de  Harry  Price,  que  disse  :  «Em  mi¬ 
nha  opinião,  não  ha  prova  digna  desse 
nome  que  alguém,  em  qualquer  tempo, 
tenha  conversado  com  Conan  Doyle  de¬ 
pois  de  sua  morte.» 

Mr.  Denis  C.  Doyle  diz:  «Mr.  Pri¬ 
ce  dá  grande  apreço  á  sua  opinião  pes¬ 
soal,  embora  o  valor  dessa  opinião  seja 
passível  de  discussão,  e  eu  me  insurjo 
completamente  contra  o  sentimento  que 
exprime.  Estou  em  condições  de  assegu¬ 
rar  aos  vossos  leitores  que  meu  pai  for¬ 
neceu  a  mim  e  a  todos  os  membros  de 
sua  família,  evidência  esmagadora  e  pro¬ 
vas  indisputáveis  de  sua  persistente  exis¬ 
tência  individual,  e  do  facto  de  continua¬ 
rem  tão  pronunciados,  como  sempre  o 
foram,  o  amor  á  sua  família  e  o  interês- 
se  no  bem  estar  dos  mesmos.  O  que  eu 
afirmo  não  é  uma  questão  opinativa ;  eu 
pessoalmente  me  responsabilizo  pelos  fac¬ 
tos.» 

Mr.  Conan  Doyle  também  replicou, 
em  «the  Hertfordshire  Mercury»  a  o  utra 
exposição  tendenciosa,  nestes  termos:  «Mi¬ 
nha  atenção  foi  despertada  por  uma  de¬ 
claração  feita  em  vosso  jornal  pelo  padre 
Knapp,  o  sacerdote  conjurador,  concer¬ 
nente  a  meu  pai,  o  falecido  Sir  Conan 
Doyle. 

O  padre  Knapp  cometeu  a  lamen¬ 
tável  imprudência  de  dar  a  público  uma 
assertiva  em  que  quer  atribuir  isto  a  meu 
pai :  «99  percento  dos  médiuns  são  misti- 
ficadores.»  E’  esta  uma  contorção  tão 
monstruosa  da  verdade  que  está  a  exigir 
uma  refutação  autoritária  e  peremptória. 

«A  afirmação  positiva  que  meu  pai 
fez  e  que  o  padre  Knapp  achou  ajeitada 
a  ser  retorcida,  de  modo  a  se  tornar  ir- 
reconhecivel,  foi :  «mesmo  que  99  per¬ 
cento  dos  médiuns  fossem  fraudes,  o  úni¬ 
co  percento  remanescente  seria  suficien¬ 
te  para  fornecer  a  prova  da  sobrevivên¬ 
cia  após  a  morte  e  a  possibilidade  das 
comunicações  póstumas.»  Meu  pai  consi¬ 
derava  mínima  a  percentagem  de  médiuns 
fraudulentos,  mas,  naturalmente,  reconhe¬ 


cia  sua  deplorável  existência  ;  efetivamen¬ 
te,  êle  mesmo  se  tornou  instrumento  de¬ 
nunciador  de  divérsos  médiuns  fraudulen¬ 
tos  e  sempre  condenou  a  mediunidade  frau¬ 
dulenta  em  termos  os  mais  energicos. 

«A  urdidura  de  uma  declaração  fal¬ 
sa  que  se  atribue  a  um  homem  que  já 
não  vive  para  se  defender,  é  uma  ação 
desprezível  e  repulsiva. 

De  vosso  siceramente,  Denis  P.  S. 
Conan  Doyle.» 

Um  acontecimento  histórico 
na  Escócia 

Psychic  News 

Os  pioneiros  espiritualistas  escoce¬ 
ses,  ora  trasladados  ao  mundo  dos  espíri¬ 
tos,  devem  ter  experimentado  grande  re- 
gosijo  no  domingo  passado.  A  dedicação 
da  Igreja  de  St.  Vincent  Street,  compra¬ 
da  por  4.250  libras,  para  a  nova  séde  da 
Associação  Espiritualista  de  Glasgow,  foi 
um  tributo  aos  seus  labores. 

Mencionada  Associação  deve  a  sua 
existência  a  um  panfleto,  escrito  ha  mais 
de  70  anos  por  James  Bain,  que  se  tor¬ 
nou  Lord  Preboste  de  Glasgow. 

Depois  de  publicado  o  conteúdo  do 
panfleto,  que  tratava  de  experiências  do 
autor  em  sessões  realizadas  em  Londres, 
30  espíritas  se  congregaram  e  resolveram 
fundar  uma  sociedade  em  Glasgow. 

Um  memorial,  publicado  em  cone¬ 
xão*  com  os  trabalhos  de  abertura  da  ce¬ 
rimônia  de  dedicação,  recorda  nomes  de 
pioneiros  escoceses  pertencentes  ás  pagi¬ 
nas  da  história  psíquica — James  Coates, 
conhecidissimo  por  suas  investigações  em 
fotografia  espírita,  David  Duguid,  notável 
médium  pintor,  James  Roberts,  que  con¬ 
duziu  o  Espiritismo  por  mais  de  20  anos, 
e  Mr.  e  Mrs.  Wallis,  célebre  médium. 

A  Séde  Primitiva 

Peter  Galloway.  é  outro  nome  hon¬ 
rado,  pois  seu  entusiasmo  era  um  fator 
importante  no  sucesso  do  Espiritismo  em 
Glasgow.  O  desejo  da  associação  de  pos¬ 
suir  casa  própria,  realizou-se  em  1923.  Pe¬ 
ter  Galloway,  que  consagrou  muitos  anos 
ao  seu  projeto,  faleceu  três  dias  após  o 
lançamento  da  pedra  fundamental. 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  365  — 


A-pesar-de  possuir,  o  centro,  aco- 
dações  para  600  pessoas,  êle  se  tornou  in¬ 
suficiente  para  as  multidões  que  vinham 
de  tropel  ás  sessões  dominicais. 

Espaço  para  1.500  pessoas 

Cerca  de  1.500  pessoas  encontrarão 
acomodações  na  Igreja  de  St.  Vincente 
Street.  O  facto  de  terem  os  espiritualistas 
adquirido  um  templo,  que  a  ortodoxia 
foi  forçada  a  vender  devido  ao  declínio 
da  congregação,  é  um  indício  do  contí¬ 
nuo  crescimento  do  Espiritismo. 

O  serviço  de  dedicação  foi  presidi¬ 
do  pelo  Rev.  George  Sharp,  ministro 
Congregacional  de  Sheffield.  Helen  Hu¬ 
ghes,  esplêndido  e  popular  médium  esco¬ 
cês,  deu  demonstrações  de  suas  faculdades 
psíquicas.  O  ministro  correu  a  cortina  e 
descobriu  uma  placa  de  bronze  com  a 
seguinte  inscrição: 

«Esta  Igreja  foi  dedicada  á  adoração 
do  Espirito  Eterno,  em  19  de  Novembro 
de  1939,  pelo  Rev.  George  Sharp,  em  pre¬ 
sença  de  Mrs.  Helen  Hughes,  médium,  W. 
T.  Shields,  Presidente,  o  conselho  e  uma 
multidão  de  visíveis  e  invisíveis». 


Aventura  de  um  Frade 

Da  muito  bem  orientada  revista  ale¬ 
mã  Zeitschrift  für  Metapsichische  Fors- 
chung»  extraímos  o  seguinte  relato  do 
frade  dominicano  hespanhol  Cypriano 
Bravo,  que  se  achava  em  missão  na  Chi¬ 
na  : 

«Com  o  avanço  dos  Vermelhos  em 
1933  fiquei  preso.  Observei  então  uma  Coi¬ 
sa  singular,  —  esses  comunistas  faziam  as 
suas  sessões  espiritas  e  nessas  sessões  cla¬ 
ramente  ouvi  vozes  que  não  provinham 
dos  assistentes.  Ainda  mais  surpreendido 
fiquei,  relata  o  frade,  quando  os  oficiais, 
que  desconheciam  em  absoluto  a  lingua 
espanhola,  chegaram  a  falar,  nessas  oca¬ 
siões,  correntemente  o  espanhol.  Referi¬ 
ram-se  a  espanhoes  os  quais  o  frade  co¬ 
nhecia  pessoalmente ;  tão  perfeitas  eram 
estas  comunicações,  que  mesmo  os  respec¬ 
tivos  dialetos  sobresairam  com  clareza.» 

Poder-se-ia  atribuir  o  facto  a  uma 
influência  satânica  ?  ! . . .  Bem  prudente¬ 
mente  o  frade  silencia  sobre  este  ponto  ! 

Porém,  o  mais  curioso  do  relato  é 
o  seguinte,  que,  o  frade  deve  a  sua  liber¬ 
tação  graças  á  essas  sessões  espiritas.  O 


general  Mao  Chutung  trata  de  inquirir 
o  médium.  A  resposta  foi,  que  soltasse 
o  preso.  Resistência  do  general,  que  ale¬ 
ga  ser  o  frade  um  adversário  do  comu¬ 
nismo  e  por  este  motivo  deve  ser  morto. 
Mas  a  entidade  espiritual  adverte  o  ge¬ 
neral,  através  do  médium,  que  de  nenhu¬ 
ma  forma  deve  ser  morto  o  frade  mas 
sim,  posto  em  liberdade.  Novo  aparte  do 
general,  frisando  que  o  frade  não  acredi¬ 
ta  no  espiritismo  ;  o  médium,  porém,  in¬ 
siste  na  soltura  do  preso. 

Também  sobre  isso,  o  frade  não  dà 
nenhuma  explicação ;  relata  sómente  os 
factos. 

Chegando  finalmente  a  essa  altura, 
o  frade  é  levado  á  presença  do  coman¬ 
dante  geral,  o  qual  o  declarou  livre  e 
mandou  entregar  ao  frade  Bravo,  um  pas- 
sa-porte  e  mais  instruções  sobre  o  cami¬ 
nho  que  devia  seguir. 

Depois  de  5  dias  de  marcha  a  pé  o 
frade  se  encontrou  em  segurança. 

Prenúncio  de  Morte 

Ricerca  Psichica 

Apendice  do  Prof.  Cario  Del  Longo 

Não  presenciei  o  fenômeno  princi¬ 
pal,  mas  tendo  acorrido  imediatamente  e 
havendo  colhido  os  testemunhos  das  qua¬ 
tro  pessoas  presentes,  posso  confirmar  a 
veracidade  dos  factos  e  a  exatidão  do  re¬ 
lato  feito  pela  senhorita  P.  C.  que  da  o- 
corrência  conservou  viva  e  clara  lembran¬ 
ça.  O  arremesso  contemporâneo  dos  dois 
vasos  de  cima  da  sacada  da  janela,  sem 
nenhuma  causa  física  natural,  constitue  um 
fenômeno  não  só  supranormal,  mas  ainda 
excepcional  por  insólito  e  audaz.  A  bre¬ 
ve  sessão  realizada  na  mesma  tarde  con¬ 
firmou  o  já  suposto  caráter  telepático  do 
fenômeno;  indicando  as  pessoas  interessá- 
das,  tio  e  sobrinho,  dos  quais  um  faleci¬ 
do,  e  a  intenção  de  indicar  a  senhorita 
Inêz  ;  com  o  prenuncio  da  carta,  não  es¬ 
perada,  que  já  então  deveria  estar  em 
viagem  e  que,  dia  seguinte  nos  trouxe  a 
notícia  da  morte  da  jovem. 

O  desprendimento  da  cortina  e  seu 
movimento  em  direção  da  snrta.  Inêz, 
poderia  ser  considerados  um  caso  fortuito, 
se  isolado ;  mais  razoavelmente,  foi  esse 
o  princípio  do  fenômeno  para  chamar  a 
atenção  da  dita  jovem ;  não  produzindo 


—  366  — 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


torial  que  o  Espiritismo,  fundamento  de 
todas  as  religiões,  é  velho  como  o  mun¬ 
do.  Swedenborg  Wesley,  Robert  Dale 
Owen,  Andrew  Jackson  Davies,  e  mui¬ 
tos  outros,  conheceram  fenômenos  espíri¬ 
tas  e  receberam  mensagens  espíritas 
antes  de  1848.  Mas  nessa  data,  realiza¬ 
ram-se  grandes  transformações  sociais: 
Igualdade  cívica  da  mulher,  abolição  da 
escravatura,  necessidade  em  religião  não 
mais  de  crer  mas  de  saber.  Foi  então  que 
em  casa  da  família  Fox  (Flydesville),  se 
repetiam  as  notificações  do  Além,  até  en¬ 
tão  apregoadas  como  indesejáveis  pela 
mistificação  clerical,  que  afirmava  tratar- 
se  de  arte  diabólica  infundindo  nas  ove¬ 
lhas  o  terror  ante  as  caldeiras  do  inferno. 
Daquela  manifestação  moderna  do  Espiri¬ 
tismo  deveria  nascer  um  movimento  mun¬ 
dial  cujo  progresso  é  quotidiano  e  irre¬ 
sistível.  A  «Congressional  Library»  de 
Washington  conta  850  obras  espíritas  ;  a 
biblioteca  de  London  Spiritualist  Alliance 
contém  3.000  vols.  espíritas  — , dentre  os 
quais  um  só  livro :  A  Sobrevivência  da 
Personalidade  Humana  basta  para  provar 
a  existência  do  Além.  Buckley,  em  sua 
História  da  Civilização,  diz ;  «Se  a  Imor¬ 
talidade  não  fôr  a  mesma  verdade,  pouco 
importa  que  o  resto  seja  verdade  ou  não.» 

A  cabana  de  Hydesville  foi  desmon¬ 
tada  e  reconstruída  no  campo  espírita  a- 
mericano  de  Lily  Dale.  Todos  os  anos, 
milhares  de  curiosos  de  todas  as  partes 
do  mundo,  vão  visitar  essa  humilde  habi¬ 
tação  na  qual  os  espíritos  fizeram,  em 
1848,  ruidosamente,  a  prova  material  e  mo¬ 
ral  de  sua  sobrevivência  após  o  fenôme¬ 
no  transitório  da  morte. 


XXXXXxXX^  XX  xXXX*XXXXXXX  XXXXXX^X 

Nossa  sucursal  na  Capital 

Levamos  ao  conhecimento  de  nossos  assinantes  residentes  na  Capital,  que  o 
confrade  Eduardo  Aidar  foi  efetivado  no  cargo  de  representante  de  «O  Clarim»  e 
«Revista  Internacional  do  Espiritismo»,  estando,  portanto,  com  plenos  poderes  para 
tratar  de  assuntos  referentes  a  essas  publicações,  tais  como  angariar  e  proceder  a  re¬ 
cebimentos  de  assinaturas.  O  confrade  Eduardo  Aidar  pode  ser  procurado  no  Centro 
Espírita  «Luz  e  Caridade»,  Rua  Visconde  Parnaíba,  912,  todas  as  terças,  quartas,  quin¬ 
tas  e  sextas-feiras,  das  19  1/2  ás  20  horas,  e  diariamente,  á  rua  25  de  Março,  835,  sobr., 
das  8  ás  18  1/2  horas. 

Fica  assim  estabelecida  a  nossa  sucursal  na  Capital. 


o  desejado  resultado,  foi  seguido  daquele 
ruidoso  voo  de  dois  vasos.  Os  dois  fenô¬ 
menos  associados  ou  não,  produziram-se 
quando  a  snrta.  P.  C.  entrou  no  aposen¬ 
to  ;  portanto  deve-se  supôr  que  esta  com 
sua  força  psíquica,  unida  a  da  snrta.  Inêz, 
havia  contribuído  á  produção  do  fenô¬ 
meno. 

A  única  relação  psíquica  entre  os 
presentes  e  a  entidade  agente  é  a  acima 
exposta,  ou  seja  indireta  e  um  tanto  ex¬ 
cepcional.  Não  se  compreende  fácilmente 
porque  esse  jovem  quis  manifestar-se  de 
modo  tão  estranho  a  uma  snrta.  que  lhe 
era  desconhecida ;  entretanto  a  notícia  de 
sua  morte  chegaria  rapidamente. 

Pode-se  ainda  perguntar  porque  os 
vasos  não  foram  atirados  no  interior  do 
aposento,  obtendo,  sem  perigo,  o  mesmo 
efeito  de  surpresa.  O  facto  de  ter  sido 
inócua  a  queda  no  pátio,  pode  ter  sido 
casual  ou  providencial ;  mas  é  mais  lógi¬ 
co  supor  que  a  entidade  agente  havia  es¬ 
colhido  o  momento  mais  oportuno,  quan¬ 
do  o  pátio  subjacente,  quasi  sempre  fre- 
quêntado,  especialmente  por  meninos,  es¬ 
tava  absolutamente  deserto. 

A  Casa  de  Campo  de  Hy¬ 
desville 

The  National  Spiritualist 

Por  ocasião  do  nonagésimo  primei¬ 
ro  aniversário  do  Espiritismo  moderno, 
o  Rev.  Louis  A.  Ward  recordou  em  edi¬ 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


—  367 


E’cos  e  Notícias 


Dr.  Emil  Mattiesen 

Desincarnou,  aos  64' anos  de  ida¬ 
de,  o  Doutor  em  Filosofia  Fmil  Mat¬ 
tiesen,  conhecido  naturalista  e  autori¬ 
dade  em  psicologia  religiosa  Termi¬ 
nado  o  seu  curso,  visitou  demorada¬ 
mente  a  Asia  onde  estudou  as  lín¬ 
guas  asiáticas,  para  se  aprofundar  nas 
religiões  dos  indús.  Foi  á  America  e 
á  Inglaterra  para  estudar  os  trabalhos 
sôbre  o  «homem  transcendental»  e  a 
«sobrevivência  da  personalidade  hu¬ 
mana». 

Na  Alemanha,  trabalhou  ao  lado 
dos  célebres  investigadores  psígui- 
cos  :  von  Schrenk  Notzing,  Joseph  Pe- 
ter,  Alexander  Aksakof,  Max  Seiling  etc. 

Ainda  a  Estigmatizada  Thereza  Neumann 

O  Dr.  Flynek  reafirma,  em  Ca- 
tholic  Medicai  Guardian,  a  autentici¬ 
dade  dos  estigmas  de  Thereza  Neu¬ 
mann,  presentemente  sob  controle 
eclesiástico. 


Estelle  Roberts  contemplada  num  testamento 

Mrs.  B.  Musmann,  falecida  em  fe¬ 
vereiro  do  ano  p  f.,  deixou  um  legado 
de  500  libras  ao  conhecido  médium 
Estelle  Roberts,  «como  um  insignifi¬ 
cante  tributo  ao  grande  trabalho  gue 
ela  tem  realizado  em  benefício  da 
humanidade». 

A  falecida  freguentemente  presi¬ 
dia  ás  sessões  de  Estelle  Roberts  em 
AEolian  Hall. 

Demonstrações  na  África  Austral 

Mrs.  Mc.  Callum,  conhecido  mé¬ 
dium  escocês  alcançou  enorme  suces¬ 
so  nas  demonstrações  de  sua  facul¬ 
dade  psíguica  durante  sua  estadia  na 
África,  principalmente  em  Cap  Town 
e  Durban. 

Nova  Secretaria  Psíquica 

A  Sociedade  Espiritualista  de 
Chelmsfórd  está  organizando  um  bu- 


reau  de  informações  espiritualistas  pa¬ 
ra  Essex.  Ele  se  propõe  a  registrar 
todos  os  centros,  com  informação  ad¬ 
ministrativa,  nomes  e  endereços  de 
oradores  locais  e  médiuns,  com  deta¬ 
lhes  de  seus  dons  psíguicos . . . 


Um  médium  de  três  anos 


A  América  possue  um  médium 
de  três  anos  gue,  aos  tô  meses  de 
idade,  começou  a  transmitir  notáveis 
predições.  E’  filha  do  casal  Harry  Har- 
dmg,  de  Pensylvania  e  a  história  foi 
divulgada  em  Psychic  Observer.  Ela 
tem  ditado,  sobretudo  á  noite,  men¬ 
sagens  de  um  espírito  gue  se  deno¬ 
mina  «Entidade»  e  as  profecias  foram 
universalmente  registradas  antes  de 
se  cumprirem. 

Campos  Espíritas 

No  ano  próximo  findo,  funciona¬ 
ram,  nos  Estados  Unidos,  uma  guin- 
zena  de  «campos»  espíritas.  O  Ca¬ 
nadá  inaugurou  o  seu  primeiro  «cam¬ 
po  espírita».  Sem  dinheiro  algum  no 
ano  passado,  os  espíritas  de  Ontário 
já  compraram  125  acres  de  terreno  e 
45  a  50  casas  de  campo  estão  sendo 
alí  construídas. 


Curioso  Epitáfio  em  Caracas 

Evolucion  descobriu,  no  Cemité¬ 
rio  do  Sul  de  Caracas,  este  curioso 
epitáfio : 

«Cristina  -  Dormes  o  teu  sôno 
eterno,  guerida  filha  . . .  Mas  sempre 
nos  lembras  gue  tua  alma  foi  o  raio 
de  sói  com  o  gual  Deus  guís  avivar 
a  nossa  esperança. 

«Quiseste  retomar  o  caminho  do 
céu.  Lembra-te,  pois,  gue,  ao  partires 
falaste  da  lua  breve  reincarnação. 

«Não  te  esgueças  de  nós  gue  te 
choramos  e  te  esperamos  >. 


368  — 


Revista  Internacional  do  Espiritismo 


ESPIRITISMO  NO  BRASIL 


A  Revista  sauda  a  todos  seus  co¬ 
laboradores,  assinantes  e  representantes  cuja 
solidariedade  agradece  e  a  todos  augura 
um  ano  pródigo  em  bênçãos  espirituais. 

Que  o  decênio  que  óra  surge  possa 
assistir  agregadas  todas  as  energias  visando 
a  vasta  disseminação  do  Espiritismo,  o 
consolador  prometido  por  Jesus,  o  único 
capaz  de  arrancar  o  mundo  do  caos  em 
que  ainda  se  debate. 

Aos  Espiritistas  está  afeta  a  tarefa  de 
tornar  o  Brasil  o  «Coração  do  Mundo  e 
a  Pátria  do  Evangelho». 

Primeiro  Congresso  Brasileiro 
de  Jornalistas  Espíritas 

Os  jornalistas  e  escritores  espíritas, 
reunidos  na  Capital  Federal,  de  15  a  25 
de  Novembro  passado,  tendo  em  vista  os 
assentos  debatidos  nas  reuniões  do  mesmo 
Congresso  e  nas  brilhantes  teses  apresen¬ 
tadas,  votaram  as  seguintes  resoluções : 

1. a  —  declarar  que,  amigo  da  Or¬ 
dem  e  da  Paz,  empreendedor  e  realizador, 
o  Espírita  é  tão  patriota  e  tão  digno  co¬ 
mo  os  que  mais  o  sejam  dentro  do  con¬ 
junto  de  homens  que  constituem  a  Pátria, 
a  qual  não  é  por  êle  tomada  apenas  no 
sentido  geográfico,  no  seu  esforço  de 
mante-la  bem  alto  no  conceito  dos  po¬ 
vos,  dos  quais  se  reputa  irmão,  pela  ori¬ 
gem  e  pela  finalidade,  ocorrendo-lhe,  po¬ 
rem,  o  dever  a  que  não  fugirá,  e  nunca 
fugiu,  de  defende-la,  por  todos  os  meios, 
quando  ameaçada  nos  seus  direitos,  quais¬ 
quer  que  eles  sejam. 

2. a  —  Sugerir,  preconizar,  recomen¬ 
dar,  a  organização,  no  Rio  de  Janeiro,  de 
uma  associação  de  jornalistas  e  escritores 
espíritas,  na  forma  que  fôr  julgada  mais 
viável  e  eficiente,  para  o  fim  de  promo¬ 
ver  e  intensificar  o  intercâmbio  de  jor¬ 
nais  e  revistas  e  do  noticiário  referente 
ao  movimento  espírita  no  Brasil. 

Organizada  essa  Associacção  o  atual 
Congresso  entregar-lhe-á  tudo  quanto  ao 
mesmo  se  referir,  incumbindo-lhe  manter 
a  exposição  de  jornais,  organizar  os  futu¬ 


ros  congressos  e  fazer  imprimir  os  anais 
do  atual. 


3.a  —  Recomendar  conjuguem  esfor¬ 
ços,  não  só  os  jornalistas,  que  devem  ser 
os  orientadores  da  opinião  publica,  como 
também  as  melhores  organizações  espíri¬ 
tas,  no  sentido  de  que  não  seja  permiti¬ 
do  pelas  autoridades  publicas  a  organiza¬ 
ção  de  agremiações  espiritas  que  preten¬ 
dam  fazer  sessões  públicas  sem  que  sejam 
os  seus  dirigentes  julgados  perfeitamente 
idoneos  intelectual  e  moralmente,  como 
tal  reconhecidos  no  meio  espírita  e  no 
conceito  publico  pelo  seu  passado. 

4-a  —  Recomendar  se  empreguem  es¬ 
forços  para  que  os  que  teem  a  seu  cargo 
a  divulgação  da  doutrina,  não  só  nos  jor¬ 
nais  e  revistas  pertencentes  ás  associações 
espíritas,  como  nas  colunas  dos  jornais 
ecléticos  se  limitem,  tanto  quanto  possí¬ 
vel,  aos  postulados  da  mesma  e  ás  suas  o- 
bras  basilares,  esforçando-se  todos,  para 
que  não  haja  guarida  nos  jornais  para  as 
campanhas  deprimentes,  nem  para  a  cola¬ 
boração  imprestável. 

Para  a  seleção  dos  colaboradores  es¬ 
píritas  na  imprensa,  recomenda  aos  jorna¬ 
listas  espíritas  o  registo,  no  Serviço  de 
Identificação  Profissional  do  Departamen¬ 
to  Nacional  do  Trabalho,  como  «jorna¬ 
listas  não  profissionais»,  permitido  pelo 
decreto-lei  n.  1.698,  de  23  de  outubro  do 
corrente  ano,  já  regulamentado  pelo  Mi¬ 
nistro  do  Trabalho,  conforme  portaria  pu¬ 
blicada  no  Diário  Oficial. 


5-a  —  Concluir  que  o  Espiritismo, 
tal  como  é  praticado  e  compreendido  no 
Brasil,  orientado  como  se  acha  pela  co¬ 
dificação  kardeciana  e  servindo  ao  Evan¬ 
gelho,  na  difusão  das  leis  do  Amor,  do 
Perdão  e  da  Caridade,  colimando  a  Fra¬ 
ternidade,  para  o  que  não  se  lhe  pode 
traçar  limites  á  evolução,  não  pode  dei¬ 
xar  de  ser  encarado  no  seu  tríplice  aspec¬ 
to — científico,  filosófico,  religioso — e,  co¬ 
mo  tal,  se  torna  digno  do  respeito  dos 
homens  e  merecedor  do  mesmo  acatamen¬ 
to  que  a  imprensa  dispensa  aos  demais 
ramos  filosóficos  e  credos  religiosos. 


(Conclúe  no  próximo  número). 


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